Passará. Mas por ora tudo o que sinto é que um furacão passou e transformou tudo em pó. Não há coração partido, ou dilacerado, ou dolorido: há poeira onde antes havia uma admiração apaixonada, um amor admirado, um músculo pulsante, motor de minha vida... o pó se acumula no fundo de uma cavidade vazia e escurecida. Onde antes havia fé, hoje há abandono.
Uma camada grossa cobre cada canto desse quarto.
Vivo em uma casa arrasada pelo furacão, onde não existem gavetas, armários ou prateleiras. Tudo foi arrasado: as roupas jazem no chão, os copos quebrados e as promessas desfeitas. As janelas fechadas, como o coração, e cobertas de poeira e lágrimas do céu.
Meu jardim coberto por mato, sem flores, ou amores... tudo que brota é decepção.
Haverá outro amor, talvez, e enquanto giro no furacão que passa pela minha vida consigo vislumbrar dias de sorriso fácil, de sol que aquece sem arder a pele, de mobília livre de poeira.
Enquanto giro tento apenas não me perder de mim, ou me encontrar, e me amar independente de quem eu seja... afinal, não me reconheço mais nesse espiral sem lógica que virou minha vida: a vida que vivo e que parece não ser minha. De quem é?
Enquanto isso tenho lágrimas e pó, e qualquer brisa revolve a poeira do que antes era meu coração... E chovo cinza em dias quaisquer.
terça-feira, 30 de janeiro de 2018
Poeira
sexta-feira, 26 de janeiro de 2018
Asas
segunda-feira, 22 de janeiro de 2018
Cão Chupando Manga
sexta-feira, 12 de janeiro de 2018
Esperança Barata
Dizem por aí que ela é a última a morrer. Às vezes acho que como fênix dá seu último suspiro para renascer logo ali na esquina. Dizem por aí que esteve presa na caixa de Pandora, aquela que possui todos os dons, e ainda sim carregou junto de si todos os males – inclusive essa biscatinha tão resistente quanto às baratas.
Nietzsche descreveu a esperança como o pior dos males, pois prolonga o suplício dos homens. Estava certo. Chego a ficar aliviada quando acho que deu seu último suspiro, e finalmente me deixará em paz, para puxar angústia, deitada em minha cama, sem ansiar por dias melhores, por amores correspondidos, por cães adotados, por carros que não parem nas rodovias, por comidas deliciosas que não engordem, por beijos que não demorem muito, por gozos que satisfaçam, por um sono que revigore.
A desgraçada vai embora, e acordo em plena sexta-feira ensolarada de um mês de janeiro com o pior mal humor do ano: noite agitada, com sonhos de uma passado recente e triste, salpicado de abandono e mágoa. Com um dia a frente que promete trabalho chato, papelada e olhadelas lascivas para a janela do sétimo andar. Vi meu ex-marido hoje. Tive a oportunidade de atropelá-lo, mas apenas suspirei.
Conversarei com uma advogada para falar de um futuro incerto, em que estarei sozinha e financeiramente quebrada: exatamente como agora. Chego a sentir as rugas entre meus olhos se aprofundando: e sinto que não haverá nem esperança, nem botox para transpô-las dessa vez. Morreu de vez – vá em paz.
Olho meu celular, depois de ter reclamado com um quase desconhecido e ele diz “Espero que melhore”. Inconscientemente eu digo “eu também”. A maldita esperança cascuda como uma barata, que estava ali, no canto da sala, com as pernas para cima, e seu interior meio para fora, depois de ter sido sapateada pela vida começa a se mexer. Porque a gente sempre espera que melhore.
A gente espera que o sorriso volte, e que amanhã as lágrimas sejam de riso. Que o vinho seja seco, mas que o beijo seja molhado e doce. A gente espera que a paixonite seja correspondida, e que ele ligue, mande mensagem, ou sinal de fumaça. A gente espera que os filhos-da-puta-do-mundo acordem e tenham esperança de que podem ser melhores, e que junto com essa esperança-barata venha também a vontade e a ação.
A gente espera que a respiração fique mais fácil, que olhar seja direto. E que a esperança fale grego, donde poderá ter vindo: e ser expectativa de dias sem males, de mares calmos, e amores mansos.
terça-feira, 9 de janeiro de 2018
300 dias
segunda-feira, 8 de janeiro de 2018
Imagino
quarta-feira, 3 de janeiro de 2018
Quebrando a cara
E amamos, é um grave defeito. Amamos homens deprimidos, desempregados, divorciados, acidentados, assexuados, homens quebrados - como nós - amamos por seus sorrisos, seu olhar, e com a esperança de que o amor seja a peça que falta para máquina voltar a funcionar. Erramos.
E saímos ainda mais quebradas: dentes, braços, vida.
A pergunta que faço sempre é: até quando sofreremos tanta violência?
Do vestido levantado no primeiro encontro, estupro, assassinato, abandono de mulheres grávidas, assédio sexual no ambiente de trabalho, sexualização precoce.
Os abusos são tantos que me faltam palavras.
Mas sobrevivemos. O amor é a peça que nos faz funcionar novamente: o amor próprio; o amor de nossas irmãs.
Quantas Marias, Penhas, Erikas, Saras, Fernandas precisarão se quebrar? Quantos retalhos essa
colcha maldita vai precisar? Nós nos juntamos, nos costuramos, seguimos lado a lado para que possamos novamente ser una, salvas, mas jamais as mesmas.
Prefiro que não endureça, não embruteça a ponto de não acreditar no amanhã.
terça-feira, 2 de janeiro de 2018
Adeus 2017
Eu poderia pensar em 2017 como o ano em que perdi meu Tobias, no dia em que eu completava 33 anos, e ele 10. Contudo, vou esforçar-me para pensar nesse ano como aquele em que Melinda veio pular minhas janelas, destruir minhas calcinhas e morar em meu coração. Vou pensar em 2017 como o ano em que eu realizei o sonho (bobo) de ter um Golden Retriever, que saiu da corrente e veio destruir minhas plantas, meus vasos, minhas pernas, me deixar toda roxa com suas mordidas e me jogar no chão durante as caminhadas, e lamber minhas lágrimas toda vez que eu chorava me sentindo sozinha.
Eu posso lembrar de 2017 como o ano em que perdi meu querido Tio Luiz, mas vou tentar lembrar desse ano como o ano em que Rafael, meu sobrinho e afilhado do coração, veio morar na barriga de minha cunhada, e quem sabe não nos dê a alegria de já pesar em nossos braços.
Principalmente, eu poderia pensar em 2017 como o ano em que vi o amor, que acreditava ser eterno, se desfazer como fumaça, e me destruir... mas isso não: 2017 me trouxe a certeza de que tenho o melhor amor de todos, aquele que emana dos corações de meus grandes amigos e de minha amada família. 2017 não foi o ano que deixei de acreditar no amor, e sim quando eu o descobri em sua forma mais bonita: a mão que te levanta quando você não tem mais forças, que seca suas lágrimas e que te empurra a seguir mesmo quando, sozinho, você não quer ou não consegue.
Eu poderia pensar nesse como o ano em que fui diagnosticada com depressão, porém prefiro vê-lo com mansidão, e como o início do fim de um longo período de angústia, como o primeiro passo rumo a felicidade.
Esse foi o ano em eu comecei a fazer yoga, fui a Punta Cana, realizei o sonho antigo de ir a Machu Picchu, e o fiz sozinha, provando a mim mesma que sou forte sim. Revi Paul McCartney, e chorei feito um bebê ouvindo Bono Vox ao vivo cantar as músicas que eu tanto amo desde sempre.
Estreitei laços, desfiz alguns que me seguravam, e me faziam infeliz, e construí novas pontes.
Conheci muita gente legal, experimentei novos sabores, permiti-me sofrer, enlouquecer e perder-me para assim encontrar-me.
2017 foi o ano em que quebrei financeiramente, mas foi o ano que me ensinou que dinheiro não é tudo, apesar de ser muito importante sim.
Quem tem bons amigos e familiares tem sempre boas razões pra sorrir, bons lugares pra ir, e quem sabe um cerveja gelada, apesar da pobreza.
Eu aprendi que chorar é importante, e que não dá pra fugir do sofrimento e fingir que nada está acontecendo, mas que apesar das amarguras, a doçura volta, o sorriso aparece quando a gente menos espera.
Desejo que esse ano chegue logo ao fim: para mim ele foi como uma disciplina na área de exatas, em que eu não entendia bem o que estava acontecendo, mas que mesmo assim, me ensinou muito, e que apesar das dificuldades e com uma "colinha" daqueles que se importam, eu consegui passar.
Não o verei com muitas saudades, entretanto lembrarei dele com gratidão por ter me permitido aprender e viver tanto.
segunda-feira, 1 de janeiro de 2018
Cachorra (não) amarela pulou a janela.
- Quem tem cachorro, principalmente os do tipo selvagem, sabe que os dias são tão cheios de novidades quanto nossas roupas cheias de pêlos.Pessoalmente venho acumulando histórias que, depois dos desfeixos, acho engraçadíssimas. Morando, sem nenhuma companhia de duas patas, com cinco cães tão descompensados quanto eu, não poderia ser diferente mesmo.São cercas destruídas, animais de pequeno porte assassinados, brigas... muitas brigas, caminhas explosivas que fazem nevar em meu gramado - que é mais um matagal que um gramado, plantas destruídas quase que no instante em que são plantadas, orelhas partidas, mordidas no seio, cachorro pulando em vala e medando 'olé' no meio da rua depois de ter fugido pelo meio de minhas pernas.Essas são algumas das façanhas que minha cabeça ressaqueada e com sono consegue lembrar hoje, Primeiro de janeiro de 2018, após apenas 3 horas de sono.Dos meus cinco cães a garota problema é definitivamente Diana, um bicho estranho, gorda, com uma cabeça pequena, pernas tortas e dentes que nunca cresceram. A cabeça pequena faz com que ela não pense direito, e falta dos dentes não faz falta nenhuma: ela morde cachorro, principalmente se for fêmea, gente, também tem predileção pelo mesmo gênero, o que não a impede de experimentar outros sabores.Enfim, depois de várias tentativas de assassinato precisei separá-la de Maggie, uma estopa terrier de quase oito anos e Melinda, uma border collie rebaixada que tem vento da cabeça e nas patinhas.Assim, ontem ao sair de casa, para enterrar 2017, deixei Diana dentro de casa, com acesso á area de serviço e a cozinha. E Maggie, que tem pavor de fogos, ficou bem escondida e segura em um dos banheiros do segundo andar.Melinda, um guaxinim diabólico, ficou lá fora. Ela e Boris, um Golden Retriever legítimo, competem no quesito quem me esquenta mais a cabeça: ela é um gênio do mal, ele um retardado musculoso, um rolo compressor desmiolado.Voltando a divisão da cachorrada na virada do ano: Maggie no banheiro; Diana na área de serviço e cozinha; Melinda, Boris e Doritos o chefe da matilha, no quintal.Saí, bebi, me esqueci da vida, dormi. Acordei três horas depois lembrando dos demônios a quem chamo de cachorros, e que precisavam ser alimentados.Dirigi até minha casa, imaginando os cães soltos pelo condomínio, a cerca no chão. Maggie desmaiada no banheiro, após perder várias unhas tentando abrir a porta.Felicidade define meu coração ao descer a rua e ver a cerca intacta.Preocupação define a sensação de abrir a porta e não ver Diana me esperando na área de serviço como ela sempre faz. Os baldes estão caídos, há certamente algo errado. Eu a chamo, e ela não vem. Será que morreu por causa dos fogos?Alguns passos e estou na cozinha, nada. De repente ela vem da sala, para onde ela se deu acesso, e assim a todo o resto da casa, derrubando a cerca.Assim que me vê, vem saudar-me agarrando-se as minhas pernas com suas garras. E de repente, logo atrás dela, viva, sem nenhuma mordida, Melinda - a quem decidi chamar de Meliante.O guaxinim subiu na pia que fica do lado externo da casa, o que ela fazia antes com o auxílio das casinhas que ela empurrava pra fazer de escada, e mais recentemente com saltos ornamentais. Abriu a janela que estava destrancada, e veio tentar cometer suicídio ao dividir a casa, livre, com a homicida sem cabeça.Para minha surpresa Melinda, ops Meliante (é força do hábito) estava inteira, e também meu sofá, minhas almofadas, minhas cortinas e tapetes. Não havia cocô, nem lixo espalhados.Apenas marcas de patinhas e pêlos.Parece que 2018 será um ano de paz, e de janelas bem trancadas, protegidas de meliantes de quatro patas.
Melinda Meliante. Imagine se tivesse pernas longas.
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cura
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