quinta-feira, 28 de junho de 2018

A change is gonna come

E então ela se apaixonara novamente. Ele não era lindo, alto, sarado, bem sucedido. Ela se apaixonou pela facilidade com que ele a fazia rir, parecendo querer trazer leveza para a intensidade de seu ser. Ela se apaixonou sem julgamentos, sem expectativas, apaixonou-se pelo sentimento que sentiu ao encontrá-lo. Mas o mesmo vento que o trouxe, inesperado, levou-o. Vento de tormenta, de tempestade, de destruição. Ela viu-se novamente inadequada. Por quê?! 'Você me intimida!' Era seu cabelo azul? Seu jeans rasgado? Seus 8 gatos? Seu trabalho como crítica de arte? Ou seu emprego no Tribunal? Era a cobertura onde morava? Ou o fato de ela ter terminado recentemente com sua namorada? O fato de ela não ter vergonha de seu corpo perfeitamente funcional, sedento e imperfeito? Era por quê ela sabia onde pôr as mãos enquanto o beijava? Por quê ela queria vê-lo e não se escondia disso? Ou por quê as palavras saiam de sua boca sem muito protocolo? Era o fato de ela estar disponível, mas nunca sozinha? Ele se foi, e a deixou se sentindo pequena como uma dose de tequila. Desejosa de caber em seu abraço, pensando em se reduzir, se moldar, se modificar. Ela não o intimidava, não. Ela o queria como fosse: qualidades, defeitos, manias. Era ele quem se sentia intimidado, e com relação a isso não havia nada que ela pudesse fazer: afinal, ela o queria apesar disso. Descobriu assim que ele não era, de fato, alguém por quem devesse ter se apaixonado. É preciso ser leve, mas é preciso ser forte. É preciso ser líquido: flexível, adaptável, mas profundo. 'Água mole e pedra dura tanto bate até que fura', certo?!
Mas um copo apenas não afeta a rocha. E ela permaneceu - forte, destemida, lágrimas nos olhos, esperando pela tsunami que a envolverá, sem destruí-la ou tentar reduzi-la, para que se fundam e se confundam.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Coiso de menino e coisa de menina?

“Coisa de menino é coisa de menina”   Estamos em 2018, e o “homão da porra” que a mulherada baba é loiro, alto, bonito e rico. Contudo não é disso que estamos falando ( meu último parceiro era mais baixo que eu, meio careca e gordinho; o anterior magrelo e de óculos – e os quis porque tinham alguma coisa, ainda que só a unha do pé, desse esteriótipo de homão ).                

Basicamente ele ganhou o título por fazer tudo o que uma mulher regular faz, ou se espera que faça, além de construir a própria churrasqueira e assassinar a própria comida (odiei essa parte em que ele matou o bichinho de seis meses, mas acho mais digno que pagar alguém para fazer o serviço sujo para você): ele cozinha, cuida da esposa – que também é um espetáculo de lindeza, dos filhos; faz crochet; já se vestiu de Drag Queen sem medinho de gostar, e blá blá blá. Basicamente, ele faz tudo que as gerações anteriores diziam que é errado para um homem. E é aí que quero chegar.

Machistas não terão lugar. Apesar de termos uma aberração como pré candidato a chefia do executivo federal vomitando o contrário, a sociedade informada sabe que isso não funciona mais, e vai funcionar cada vez menos. As mulheres hoje são arrimos de família, e não dependem de homem para nada, ou quase nada... uns beijinhos e uns carinhos fazem bastante bem.

Precisamos parar de ensinar a nossas crianças que existem cores de menino e de menina; atividades de menino de menina – a não ser que essas precisem da utilização do órgão genital, mas daí não é atividade para criança, certo? (Estou plagiando um texto que li há alguns anos, e não recordo a fonte).  Chorar é para menino e para menina – pelas razões certas. Se nossos filhos aprenderem que os sentimentos são melhores para fora que para dentro vamos economizar uma nota em terapia, perdoem-me meus amigos psicólogos, e antidepressivos, que se foda a indústria farmacêutica.

Quero que minha filha brinque de carrinho e solte pipa; vista as roupas que quiser, e se sinta representada na embalagem de jogos de raciocínio lógico, e kits médicos. Quero que meus sobrinhos brinquem com bonecas, cozinhas e com meninas. Que saibam que existem mulheres no Rock and Roll além do Axel Rose -  Joan Jett, Linda Perry, Doro Pesch só para começar.

Para minha felicidade vejo pais e mães cada dia mais cientes que sexualidade é algo que só deve ser tratado quando houver ‘sexualidade’, até lá a gente está tratando da formação do caráter de uma criança, que não namora, e que não faz a mínima idéia do que é amor romântico, heterossexualidade, homossexualidade e homofobia – gostaria inclusive que passassem pela vida sem precisar perder mais tempo que duas garrafas de vinho falando sobre isso.

O que mais me preocupa é que o preconceito de outrora anda solto por aí, travestido – não poderia perder a chance do trocadilho – de moral e bons costumes da família tradicional (em duas versões: Barro, Costela e População Mundial, ou Maria, Pomba, José e Jesus). E mesmo na família tradicional galera quebra paradigmas: Eva, por exemplo, era herdeira da Sonserina e falava com cobras; ela e Adão se pegaram, e deixaram os filhos se pegarem também, do contrário não teríamos uma galera tão grande nesse planeta hoje (haja períneo para parir os antepassados de mais de 7 bilhões de pessoas); Jesus vagava por aí com 12 caras, transformando água em vinho, andando com puta, trazendo os ‘parça’ do além (tenho certeza que Lázaro tava só em coma alcoólico e que meu mano Jesus deu para ele um caramelo); tocando o terror nos mercadores, e os expulsando do Templo; ganhando beijo de Judas – e em público. Pensando por esse lado, esse talvez tenha sido seu maior crime, afinal até hoje os conservadores se questionam: ‘como eu vou explicar pro meu filho, dois caras se beijando?’.

Enfim, se posso deixar minha opinião é: não criem ‘homões da poha’ e ‘mulheres para casar’ – eduquem seres humanos do ‘caráleo’ capazes de qualquer coisa do bem, seja fazer um casaco em tricô para um morador de rua, ou a colonização de Andrômeda.

terça-feira, 19 de junho de 2018

Casca

Periguetes: já nascem com temperatura corporal diferenciada ou desenvolvem uma casca protetora que as protegem do frio permitindo que usem micro saia e cropped mesmo quando a temperatura ultrapassa -36° pra gordínea que vos escreve?! Hoje no Bobo Repórter.

Primeiro: periguete foi só uma piada, meninas e meninos têm o direito de se vestir, ou não, da forma como quiserem. Podem ainda usar seus corpos da forma que quiserem e com quem quiserem, e não deveriam ser rotulados de nada por isso, talvez apenas de 'descoladões e descoladonas'.

Mas agora é sério, saio a noite com minhas migas e migos, e mesmo antes me tornar Balzaca eu já carregava um casaquinho, ou camadas e mais camadas de agasalho, mesmo sem a instrução de mamãe. Daí estou lá, com uma cerveja grudada a minha mão, como tecido epitelial grudado a uma superfície metálica no frio, torta, tremendo, nariz escondido em um cachecol, e vejo a mina ao lado de short e camiseta, sem nem uma meia calça ou um cardigan para proteger. Como conseguem?!

Fico pensando na preocupação das mães dessas bonitas, em casa, já preparando o chá de guaco, limão e mel para a hora que elas chegarem, com o peito cheio. Queria ter a fórmula: tenho pouca roupa de inverno, porque sou naturalmente calorenta, e acabo repetindo sempre o mesmo look - se tivesse o mesmo sistema térmico dessas minas eu poderia variar mais as vestimentas nessa época do ano.

Ocorreu-me que elas podem fingir que nao estão com frio, como eu finjo não estar 'altinha' depois de algumas cervejas, mas eu sempre dou uma 'má nota'... E elas não: cabelos hard rock jogado pro lado, blusão de macho mostrando o sutiã e short jeans, e sorrisão de orelha a orelha: sério, como pode?! Se alguém souber me conte.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Mana, você não precisa disso!

Eu tenho muitas amigas, as melhores na verdade. Sempre dizem que homens são excelentes companheiros uns pros outros; que se protegem quando estão fazendo ‘*erda’ e tudo mais, em oposição as mulheres que são falsas e dissimuladas, invejosas. Quando eu escuto isso eu fico me perguntando em que sucursal do inferno essas manas estão fazendo amizade com essas minas.   Minhas amigas jogam a real na cara.  Se for preciso me chamam de burra; me  deixam puta quando colocam certas cartas na mesa, cartas essa que se mostram certeiras pro meu Royal  Straight Flush. Chamam-me carinhosamente de ‘vaca’, ‘filha-da-puta’, ‘piranha’ porque sabem que de fato sou uma ‘cincesa’ , assim como eu as chamo de coisas igualmente carinhosas.   Enchemos a cara juntas para esvaziar o coração; nos damos colo, carinho e muito valor. Dividimos a vida juntas para que não dividamos mais nada. Entretanto essas são minhas amigas – e da mesma forma que você tem que fugir quando vir um boy lixo, tem que se benzer e dar meia volta quando vir a sacola de lixo feminina que caiu do caminhão e que vai tentar ferrar com seus esquemas, na melhor das hipóteses, ou com sua sanidade mental, na pior delas.   A primeira mina traíra com quem cruzei minha vida foi uma parente, que quando eu tinha uns cinco anos, e algum excesso de peso – que me fazia parecer mais ‘mocinha’ que eu era – sentiu inveja dos meus ‘peitinhos de gordura’ e me lascou uma dentada que quase realizou uma mastectomia total. Chorei feito uma diaba, e a evitei para todo sempre.   Depois, minha querida prima, a quem eu estimo até hoje, companheira das gandaias, culpada por meu primeiro beijo. Jogava os boys todos na minha mão, exceto os que ela queria. Numa época em que não existiam celulares e redes sociais, ela furtou o papel onde o Daniel – segundo menino que eu beijei na vida, tinha escrito o telefone dele. Eu tinha doze anos, faria treze no mês seguinte. Ele me ligou no dia do meu aniversário, e eu já não sabia mais quem ele era.   Mas eu não era assim tão despachada, e assim que passaram as férias, e os boys que Priscila jogava na minha mão quando estávamos juntas – voltei para minha concha, e fiquei lá ostrando, esperando que alguém me notasse. Foi aí que uma amiga fez uma festa, e eu vi ali a oportunidade de descolar o mocinho por quem eu tinha uma paixonite. Eu estava o mais bonita que conseguia naquela época – eu era feia para desgraçar – estava super animada, mas minha timidez não me deixava me aproximar, então uma amiga de uma amiga me ouviu falando como eu estava afim dele, e se ofereceu para ir lá me ‘ajudar’. Ajudou-me livrando-me de um boy que, eu descobria anos depois, era mais que lixo. Mas ela ficou com ele, eu não. Embora tenha tido a oportunidade anos depois. Essa experiência me ajudou – nunca mais pedi a ninguém para resolver meus esquemas: eu chego, puxo papo e deixo acontecer – se tiver que acontecer.   Anos depois, logo após o término de um relacionamento de cinco anos, e sem nenhum freio, foi minha vez de ser A filha da puta. Conheci um cara que era um gatinho, coincidentemente também chamado Daniel – era amigo do peguete de uma amiga. Então cheguei pra minha outra amiga (as duas são irmãs e minhas manas até hoje), e disse que ‘trocinho, hein?’ Ela me disse que também achava e que estava de olho nele. Transcrevo o que lembro do meu ‘discurso’: então quem fica com ele, vamos tirar no par-ou-ímpar?   É claro que, doce como ela é, não topou. Então eu apenas disse, então eu fico com ele. Fiquei com ele algumas vezes, ela namorou com ele por alguns anos depois. E olhando para trás eu acho que realmente não deveríamos ter feito par-ou-ímpar e nenhuma de nós deveria ter ficado com ele. Que foi muito mais FDP que eu, a menina fura olho, minha prima ladra de telefone e a mordedora de peitos junto.   Depois dessa experiência, quando vi que tinha me comportado de forma horrível com uma mana que amo, mudei. Decidi nunca mais competir com amigas ou conhecidas por causa de homem. Nenhum vale a quebra. Com tanto peixe no mar, não preciso me indispor com minhas semelhantes. Estendi o comportamento até para pessoas que mal conheço.     Há pouco tempo, após o término de um outro relacionamento de onze anos, estava em uma festa – com uma das manas acima, e um ‘mocinho’ estava cheio de idéias para cima de mim, pediu até meu telefone. Eu vi que uma mina estava por perto, e o olhava muito. Conversei com o pessoal e descobri que eles já tinham se ‘relacionado de forma não exclusiva’, mas que ela tinha uma ‘serious crush on him’. Puxei meu carro, e vazei. Não quero ver minha irmã na bad por minha causa. O cara pode ser o cretino que quiser, mas não terá minha ajuda, simples assim.   Então, pensando em tudo isso, e na raiva que sinto do embuste do meu ex toda vez que lembro que fui traída, analisei o papel da namorada dele em toda a situação. Engraçado que não nutri raiva por ela sequer uma vez. De maneira geral penso que ela deve ser uma mulher interessante – o desgraçado tem bom gosto, preciso admitir. E sinto um pouco de pena, porque sei como ela está se sentindo: cegamente apaixonada por um homem inteligente, interessante e de sorriso bonito. E receio que ele faça com ela o que fez com todas nós que viemos antes: a seduza, a manipule, tente aprisioná-la em seu copo, e traia e abandone depois. Não sinto raiva porque não foi ela quem traiu minha confiança. Ela não mantinha nenhum laço comigo, e se cruzou meu caminho, sequer me lembro, apesar de recordar de todas as vezes que a pulga saltava atrás da minha orelha quando ele falava seu nome.   Você provavelmente estava em um relacionamento infeliz, e se prendeu a esperança de recomeçar. Mas mina, ele era casado, e você também! Vocês não precisavam disso.  No caso dele: um  cretino, simples assim. Que pode fazer contigo o que fez comigo.  No seu, cadê a empatia? Você gostaria de estar  no meu lugar? Sinceramente não desejo seu mal, quero viver em um mundo onde as pessoas são felizes, principalmente as categorias que já foram impedidas de votar e comercializadas como mercadoria. Mas poha!   Penso nisso toda vez que o Facebook ou o Instagram me indicam você como possível amiga, até eles sabem que a amizade é muito melhor que a furação de olho – sorte para você, que eu continuo apenas olhando o mar, enquanto molho meus pés.  

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Reciprocidade

Confunde-se frequentemente reciprocidade com igualdade. Espera-se que o outro seja igualmente presente; disponível; amoroso. Procure cuidadosamente em seu dicionário, reciprocidade é segurar uma mão que pediu ajuda, é beijar de volta ainda que em ritmos diferentes. É levar um pedaço de bolo para quem se lembrou do seu aniversário. É sorrir para o vizinho ainda que sem vontade. Não existem iguais: miro-me no espelho, e a imagem que vejo é tão distante do que percebo nos olhos de meus amigos. Ali, do outro lado do vidro, vejo olhos cansados; um sorriso sonolento; e linhas marcando em minha testa todos os itens que ainda tenho que pagar. Vejo minha imagem respingada do creme dental que não tive tempo de remover do espelho. Sorrio para mim mesma, com a doçura que, apesar de minha aparência assustadora, sei que mereço. Reciprocidade é isso. Se oferecer por inteiro, sem tentar tomar o outro. Deixe que se ofereçam, e se não o fizerem - afaste-se. Os todos são diferentes, mas cada um é um universo, que merece ser recebido com carinho, sem julgamento, troque-mo-nos uns com os outros como figurinhas do álbum da copa. A gente só pode dar o que tem, e reciprocidade é isso: doe-se sem medo. Esteja presente; responda às mensagens; aos convites; e mesmo aos telefonemas - pessoalmente eu odeio falar ao telefone, mas se reconheço o número eu atendo. Pode ser uma amiga que acabou de terminar um namoro e precisa de colo; ou minha prima me chamando pra sair e se divertir; ou alguém só preocupado em saber se eu estou bem. Aprendi cedo a só gostar de quem gosta de mim. Claro que nem sempre funciona: às vezes a pessoa é legal demais, tá na minha mas mesmo assim, como diz minha mãe, minha passarinha nem bate. E o contrário também, as vezes o cabra é um mané, mas tem um sorriso lindão e você aceita os vácuos que ele te dá, achando que são alguma coisa. Nega, vácuo é vácuo, não deixe que ele te trate como uma boneca inflável perdida no espaço! Se fulano não enche sua bola, ele não merece que você dê bola para ele depois. Mas sejamos claras: você também não deveria ficar fazendo joguinho! Joguinho é completamente contra as regras da reciprocidade. Se você tá afim vai lá e fala. Só assim saberá se é recíproco, e o quanto vale a pena se demorar ali... Eu penso que na vida somos todos copos meio cheios, de água, chá, vinho... e outros líquidos não bebíveis também, e precisamos nos dar, mas também receber para que não nos esvaziemos: reciprocidade é isso, pelo menos tá definida assim no Nubicionário.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Cérebro e dentes

Todas as vezes que me apaixonei, caí por duas características muito marcantes: um sorriso bonito e um cérebro pulsante. Quase sempre que me apaixonei deu certo, pelo menos durante um tempo, até que o sorriso me cegava de amor, e o cérebro me manipulava – e eu me deixava envolver como um inseto preso em uma teia.                 Que perigo eu corro - vejo essa combinação e digo logo: olhe ali uma tentação, me solte que quero cair. E caio com gosto, de cabeça, quebrando a cara, os dentes, e até sobrancelha. Se o cabra tiver um beijo bom então, e um humor ácido tá armada a arapuca. É um tal de ‘deus me dibre, mas quem me dera’ que eu mesma não sei lidar.                 Desde a última vez que escorreguei na casca de banana do amor, e me espatifei no chão, com fraturas expostas múltiplas e traumatismo craniano,  estou  sendo mais cuidadosa, experimentando sorrisos  com dentes tortos,  até encavalados, como os do Anderson do Molejão - ou cérebros menos aguçados. Além, é claro, de evitar recaídas por contatinhos que eu tenho uma queda enorme – inteligentes e de sorriso bonito.                 Sinto-me a Mina Harker, com o Drácula de Bram Stoker – horroroso: vontade de dar e medo (leia-se: certeza) de doer. Esses meus dois gatilhos me matam, e fazem uma macumba mal chutada parecer Brad Pitt em Entrevista com o Vampiro.  Entrego-me e deixo que me mordam, me chupem... tirem de mim a energia vital. Mas acabou.                 Acredito que se um dia me relacionar de novo o meu objeto de desejo terá um sorriso bonito, e uma mente interessante. Mas não apenas: quero alguém tão plural quanto eu; aberto as novidades, as mudanças, as experiências. Apaixonado por animais. Respeitoso com os menos favorecidos. Tem que gostar de se enroscar comigo até se esquecer da hora. Tem que ser homem o suficiente para saber que vou voar, não para outros – não preciso disso, e que sempre vou voltar.                 Alguém para me conquistar terá que dar mais valor ao que não se pode comprar, que ao dinheiro; não pode se envergonhar de si mesmo, e nem de mim e minhas idiossincrasias. Se possível que até goste delas, como um dia eu estar vestida de mendigo e no outro de scarpin, e com os cabelos raspados.                 Tem que ser sincero, direto e livre de preconceitos retardados. Aceito quem seja intolerante a intolerância e ao Bostonaro.  Não precisa passar roupa, ter peças da moda, nem andar impecável... cheirosinho tá ótimo. Mas é bom que saiba que não sou mãe, nem dele, nem de ninguém com duas patas. Portanto, se não sabe, é bom que aprenda a cozinhar, lavar e o local de cada coisa – inclusive de suas mão, que espero estejam sempre pousadas nas minhas, com opção de estacionarem em minha cintura, ou um pouco acima, ou um pouco abaixo...                 Além de gostar de mim, que goste de meus amigos. Porque não os abandono por nada. Tenho certeza que esse Mané será muito querido por eles, que o receberão nessa trupe heterogênea de pessoas que não se adéquam muito.                 Por fim que consiga desfrutar da música tocada pelas melhores bandas, pelas buzinas dos carros no congestionamento; produzida pelas abelhas; que ouça enquanto eu canto meus mantras desafinados, dos quais não sei a letra. Que não saiba dançar se não gostar, mas que entre na roda comigo por achar um sacudido desajeitado ao lado de alguém legal vale mais que uma carranca no canto do salão.  

cura

Disseram-me que eu me curaria. Mas como me curar da própria vida, da própria história, daquilo que indiscutivelmente desenhou linhas em meu ...