terça-feira, 24 de novembro de 2020

Finish him... opa, não, péra!



 

Relacionamento não é competição, não é conflito, não é uma pessoa contra a outra. Relacionamento é parceria, é trabalho em equipe, é todo mundo contra um problema, qualquer que seja, para que ambos, ou todos possam ser felizes e independentes, seres individuais que somam para formar aquela relação.

Por vezes é muito difícil, parece-nos que o interesse do outro conflita em essência com o nosso – e às vezes a aparência não engana. Somos ego, egoístas e desejamos que nossa vontade seja feita, ponto. É difícil nos deslocar do lugar onde estamos e perceber que a cerveja com os amigos, o futebol, a viagem em família, as horas sozinho e em silêncio são essenciais para que o outro, ou nós mesmos, se recorde de quem é. É difícil perceber que a escolha do outro de não estar com você naquele momento não é pessoal, não é uma afronta. Entendo que não deve haver hierarquia entre relações, e vejo nossas relações como pétalas de uma flor: é preciso cuidar de todas para que sejamos saudáveis. Cada pétala é uma de nossas relações: amigos, família, trabalho, animais de estimação, e no centro, unindo todas essas pétalas estamos nós: nosso amor próprio, nossos hobbies, os momentos que precisamos estar sozinhos para nos olharmos no espelho e não nos esquecermos de quem somos.

Por mais que haja troca, é preciso manter a individualidade nas relações. E parece que me contraponho ao meu argumento inicial, certo?

Errado: individualidade não é individualismo. Quando estamos em um relacionamento, seja ele familiar, afetivo-sexual ou entre amigos o outro deve ser minimamente percebido. Não estou dizendo que devemos nos modelar nos desejos e expectativas do outro, o que estou dizendo é que é possível reduzir os danos de um conflito de interesses quando se está numa relação em que todos os envolvidos presam pelo bem estar (de todos os envolvidos). E qual a solução? A difícil arte da comunicação/ compreensão.

Você não precisa pedir autorização às pessoas com quem se relaciona para fazer o que quer, afinal as pessoas passam, e você não – mas é preciso ser claro no que deseja, e dar espaço ao outro para se posicionar. Em um mundo ideal seria mais ou menos assim: você comunica, o outro compreende, e assim como você – tem algum espaço para escolha. Assim como você, o outro tem desejos e expectativas, assim como você o outro tem direito a escolher.

Isso em mundo ideal. No mundo real temos dezenas de compromissos, esquecemos de alguns, ficamos de saco cheio, o carro quebra no meio do caminho, a comida nos faz passar mal, tem TPM, mal humor, casa, trabalho, tem família e seus conflitos, a vida é uma loucura, e portanto, eventualmente não será possível dar aos nossos semelhantes as mesmas oportunidades que galgamos para nós mesmos – e mesmo sem ter intenção, podemos quebrar o coração de vidro delicado das pessoas com quem nos relacionamos. No mundo real nos relacionamos com pessoas de mundos muito distantes dos nossos, seres que por vezes parecem alienados de uma razão tão corriqueira para nós.

Então, no mundo real nos relacionamos com seres alienígenas, que pouco compreendemos, e temos fatores externos que não podemos controlar – está armada a guerra dos mundos! Não.

Ainda que tudo tenha saído do controle, você tenha se esquecido de trocar o óleo do carro, e ele parou no caminho, e com seu celular sem bateria você não conseguiu ligar pra seguradora e nem avisar sua mãe que não conseguiria chegar em casa para jantar a macarronada que ela preparou especialmente  para você, na quarta-feira, que é o dia que você sempre chega mais cedo em casa. Bem, ela se frustrou porque você não chegou, porque fez seu prato favorito, e deixou de jogar biriba com as amigas pra te receber – mas você não podia fazer nada: você não teve escolha, ela também não. Olhar para o outro não é atender às expectativas do outro, e sim entender seus sentimentos e sentir a mínima empatia por eles: sinto muito não ter chegado a tempo! Sente sim: muita raiva de toda a série de desventuras que te aconteceram, e que não puderam ser evitadas por você – e nem pela sua mãe. Você se desculpa não por te ferido os sentimentos dela de forma intencional, mas para mostrar a ela que apesar de tudo você a vê, mesmo estando com fome, suado, sujo e pistola da vida. E ela sabe de você, vê você, mas o pedido de desculpas, ainda que você não tenha culpa, a fará perceber que você também a enxerga. Comunicação, compreensão.

Relacionamentos não são competições. Não estamos decidindo quem está certo, ou errado; quem está tendo o pior dia. Relacionamento é o somatório de individualidades e empatia. Não somos um contra o outro, somos nós, juntos contra as adversidades que possam surgir.

cura

Disseram-me que eu me curaria. Mas como me curar da própria vida, da própria história, daquilo que indiscutivelmente desenhou linhas em meu ...