Relacionamento não é competição,
não é conflito, não é uma pessoa contra a outra. Relacionamento é parceria, é
trabalho em equipe, é todo mundo contra um problema, qualquer que seja, para
que ambos, ou todos possam ser felizes e independentes, seres individuais que
somam para formar aquela relação.
Por vezes é muito difícil, parece-nos
que o interesse do outro conflita em essência com o nosso – e às vezes a aparência
não engana. Somos ego, egoístas e desejamos que nossa vontade seja feita, ponto.
É difícil nos deslocar do lugar onde estamos e perceber que a cerveja com os
amigos, o futebol, a viagem em família, as horas sozinho e em silêncio são
essenciais para que o outro, ou nós mesmos, se recorde de quem é. É difícil perceber que a
escolha do outro de não estar com você naquele momento não é pessoal, não é uma
afronta. Entendo que não deve haver hierarquia entre relações, e vejo nossas
relações como pétalas de uma flor: é preciso cuidar de todas para que sejamos
saudáveis. Cada pétala é uma de nossas relações: amigos, família, trabalho, animais
de estimação, e no centro, unindo todas essas pétalas estamos nós: nosso amor
próprio, nossos hobbies, os momentos que precisamos estar sozinhos para nos
olharmos no espelho e não nos esquecermos de quem somos.
Por mais que haja troca, é
preciso manter a individualidade nas relações. E parece que me contraponho ao
meu argumento inicial, certo?
Errado: individualidade não é
individualismo. Quando estamos em um relacionamento, seja ele familiar,
afetivo-sexual ou entre amigos o outro deve ser minimamente percebido. Não
estou dizendo que devemos nos modelar nos desejos e expectativas do outro, o
que estou dizendo é que é possível reduzir os danos de um conflito de interesses
quando se está numa relação em que todos os envolvidos presam pelo bem estar
(de todos os envolvidos). E qual a solução? A difícil arte da comunicação/
compreensão.
Você não precisa pedir
autorização às pessoas com quem se relaciona para fazer o que quer, afinal as
pessoas passam, e você não – mas é preciso ser claro no que deseja, e dar
espaço ao outro para se posicionar. Em um mundo ideal seria mais ou menos
assim: você comunica, o outro compreende, e assim como você – tem algum espaço para
escolha. Assim como você, o outro tem desejos e expectativas, assim como você o
outro tem direito a escolher.
Isso em mundo ideal. No mundo
real temos dezenas de compromissos, esquecemos de alguns, ficamos de saco
cheio, o carro quebra no meio do caminho, a comida nos faz passar mal, tem TPM,
mal humor, casa, trabalho, tem família e seus conflitos, a vida é uma loucura,
e portanto, eventualmente não será possível dar aos nossos semelhantes as
mesmas oportunidades que galgamos para nós mesmos – e mesmo sem ter intenção,
podemos quebrar o coração de vidro delicado das pessoas com quem nos relacionamos.
No mundo real nos relacionamos com pessoas de mundos muito distantes dos
nossos, seres que por vezes parecem alienados de uma razão tão corriqueira para
nós.
Então, no mundo real nos
relacionamos com seres alienígenas, que pouco compreendemos, e temos fatores
externos que não podemos controlar – está armada a guerra dos mundos! Não.
Ainda que tudo tenha saído do
controle, você tenha se esquecido de trocar o óleo do carro, e ele parou no
caminho, e com seu celular sem bateria você não conseguiu ligar pra seguradora
e nem avisar sua mãe que não conseguiria chegar em casa para jantar a
macarronada que ela preparou especialmente para você, na quarta-feira, que é o dia que
você sempre chega mais cedo em casa. Bem, ela se frustrou porque você não
chegou, porque fez seu prato favorito, e deixou de jogar biriba com as amigas
pra te receber – mas você não podia fazer nada: você não teve escolha, ela
também não. Olhar para o outro não é atender às expectativas do outro, e sim
entender seus sentimentos e sentir a mínima empatia por eles: sinto muito não
ter chegado a tempo! Sente sim: muita raiva de toda a série de desventuras que
te aconteceram, e que não puderam ser evitadas por você – e nem pela sua mãe.
Você se desculpa não por te ferido os sentimentos dela de forma intencional,
mas para mostrar a ela que apesar de tudo você a vê, mesmo estando com fome,
suado, sujo e pistola da vida. E ela sabe de você, vê você, mas o pedido de desculpas, ainda que você não tenha culpa, a fará perceber que você também a enxerga. Comunicação, compreensão.
Relacionamentos não são
competições. Não estamos decidindo quem está certo, ou errado; quem está tendo
o pior dia. Relacionamento é o somatório de individualidades e empatia. Não
somos um contra o outro, somos nós, juntos contra as adversidades que possam
surgir.