sábado, 27 de agosto de 2022

Suiicida

Com um baque oco, abrupto e irado você morreu. Ainda sinto o toque de sua mão já gélida em meu rosto. E apenas um fantasma do que você houvera sido se agarrou aos meus cabelos, antes de partir pra sempre.
Um suicida. 
Mataste a ti mesmo, pelas mãos que não foram capazes de se agarrar ao agora, de sentir a leveza da vida que se construía.

Seu corpo ainda a andar pelo mundo, ignorante do genocídio suicida causado. Eu, uma sobrevivente que ainda não percebe que sobreviveu - tamanha dor que se aperta pra conseguir caber sob minha pele, sem causar ainda mais estragos.

Sua partida entalada em minha garganta, onde palavras já não fazem sentido. Quebraste um futuro, um sujeito ou mais,  com um verbo impensado, só seu.

Talvez o mundo, ao ver seu corpo vagando por aí, não perceba o que lhe falta. Mas nós sabemos: a falta que fizeste, mesmo quando estava vivo, a falta cometida, que lhe tirou da vida; as faltas que fazem de você um coração que bate - e só.

Caminho poeirento

Eu fiz muitas escolhas 'ruins', mas não errei 'feio' - todas as minhas falhas foram cometidas com o coração, com esperança e fé, por isso não me envergonho dos caminhos que trilhei. Foram lindos.

E nas minhas andanças, prefiro manter a poeira colecionadas dos meus tropeços e quedas bem a vista, e não sob o tapete. Assim,  posso vê-la, e então limpa-la, no meu ritmo, na minha humanidade limitada. Minha vida é um livro aberto e empoeirado, o qual vou espanando a medida que o escrevo - em uma língua arcaica, que poucos entendem e menos ainda têm o dom de interpretar - mas ouso dizer: que história bonita

morte e vida

Eu não morri, mas ainda não sei disso. Todo o meu corpo está colado ao chão, em meus olhos a escuridão salgada, marejada de dor, em ondas que parecem apenas arrebentar em mim, sem nunca voltar pro oceano.
Sobre a terra, choro em silêncio, esperando o momento em que voltarei a fazer parte da natureza, alimentar outros vermes. Espere um momento! Ainda respiro. As batidas do meu coração, excruciantes e sem fé, me lembram que é preciso mais que isso para se por fim a uma vida. 
É preciso mais que fraturas múltiplas, expostas. É preciso o silêncio, e a dor que sinto em cada centímetro do meu corpo, grita que não posso desistir. Estou morrendo, mas ainda é cedo demais para morrer - talvez eu já comece a me lembrar disso.
Brisas vindas de tempos em que eu também não morri. 
As esperanças, essas sim morreram, e seus corpos pesados são como escombros sobre mim, mas em algum tempo, esses corpos também se vão. 
E assim, verei que aquela estrada acabou,  acabou em nada. Mas que apesar do choque contra o muro, eu não acabei. 
Acharcada, ferida, sem fé, me erguerei - sabendo-me viva, não mais quase morta -  estarei morrendo e vivendo, mas seguindo de cabeça erguida, até o dia que não sobreviverei mais.

cura

Disseram-me que eu me curaria. Mas como me curar da própria vida, da própria história, daquilo que indiscutivelmente desenhou linhas em meu ...