sábado, 27 de agosto de 2022

morte e vida

Eu não morri, mas ainda não sei disso. Todo o meu corpo está colado ao chão, em meus olhos a escuridão salgada, marejada de dor, em ondas que parecem apenas arrebentar em mim, sem nunca voltar pro oceano.
Sobre a terra, choro em silêncio, esperando o momento em que voltarei a fazer parte da natureza, alimentar outros vermes. Espere um momento! Ainda respiro. As batidas do meu coração, excruciantes e sem fé, me lembram que é preciso mais que isso para se por fim a uma vida. 
É preciso mais que fraturas múltiplas, expostas. É preciso o silêncio, e a dor que sinto em cada centímetro do meu corpo, grita que não posso desistir. Estou morrendo, mas ainda é cedo demais para morrer - talvez eu já comece a me lembrar disso.
Brisas vindas de tempos em que eu também não morri. 
As esperanças, essas sim morreram, e seus corpos pesados são como escombros sobre mim, mas em algum tempo, esses corpos também se vão. 
E assim, verei que aquela estrada acabou,  acabou em nada. Mas que apesar do choque contra o muro, eu não acabei. 
Acharcada, ferida, sem fé, me erguerei - sabendo-me viva, não mais quase morta -  estarei morrendo e vivendo, mas seguindo de cabeça erguida, até o dia que não sobreviverei mais.

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