sábado, 4 de julho de 2020

Soltei foguete, imaginando que você já vinha

Conhecem a raposa emocionada do Pequeno Princípio?

"Se tu vens,por exemplo às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais me sentirei feliz. Às quatro, então, estarei inquieto e agitado: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coração."

Rituais são precisos.

E se anseias pelo visita de alguém querido - tio, avó, irmã, passarinho - prepara-se a casa, o coração, enche-se a dispensa e as panelas. Organiza-se (pro diabo, cancelemos) todos os outros compromissos para que aquele que vem possa sentir todo o carinho de nossa espera, ou toda a espera de todo esse carinho.

Sozinhos, a gente come qualquer coisa, dorme em qualquer canto, seca-se com qualquer pano, mas preparamos o canto mais macio em nós, escolhemos as melhores toalhas, cedemos nossos 'tudos' favoritos para quem vem. Ouviremos, talvez: Não precisava. Mas o afeto não nos permitiria jamais afetar-se pouco para quem tanto nos cativa.

E se não vem? A festa se desfaz num sopro. É preciso achar novo uso, reciclar tanta alegria. Esvaziar na pia, o bule de café. Oferecer as quitandas aos vizinhos, ou nos engasgar com elas, e preencher todos os espaços que ficarão então vazios.

 Imaginar que virão é engano, pois a vinda tem que ser querida - tão querida quanto a pessoa a quem nossos braços desejam enlaçar. E se não vêm, silenciam-se os atabaques, a dança não se dança, e broa de fubá vira uma bobagem qualquer.

E se viessem, mesmo sem querer, que graça haveria de ter? É melhor que descansem a sombra que escolhem pousar, enquanto desfazemos os laços de fita amarrados na porta em boas vindas.

cura

Disseram-me que eu me curaria. Mas como me curar da própria vida, da própria história, daquilo que indiscutivelmente desenhou linhas em meu ...