SE VOCÊ TEM DEPRESSÃO, você não está sozinho.
Em agosto de 2017 eu fui diagnosticada com depressão, após um ano tentando, sozinha, contornar os sintomas. Minha vida era perfeita: casa, cachorros, casamento, e eu não entendia de onde vinha tanta dor.
Ainda em agosto eu comecei o tratamento com medicamentos, apesar do apelo de alguns amigos para que não o fizesse - eu sempre carreguei um sorriso na cara, e fui altamente produtiva apesar de travar todas as manhãs - durante os dias mais sombrios - uma batalha para sair da cama.
Eu estava em queda livre, e as mãos que estavam mais próximas se retiraram quando eu tentei segurá-las no meu primeiro ataque de pânico - único efeito colateral do medicamento. Eu chegaria rápido ao fundo do poço, com um barulho surdo, dolorido, destruidor. Mas não tinha ideia de quantas vezes o chão ainda se abriria sob meu corpo, antes mesmo que eu pudesse me manter em pé.
Durante meses eu desejei não acordar, que o elevador caísse, que um carro perdesse o controle e me encontrasse desatenta em uma calçada qualquer. Durante outros meses eu olhei pela janela do escritório onde eu trabalho, no sétimo andar, e pensei em voar pra felicidade que eu então perdera. Olhava para os ônibus articulados, virando depressa as esquinas das avenidas de perto do escritório, e só pensava nas rodas, e no quanto eu queria que a roda da minha vida parasse de girar.
Eu busquei ajuda, medicamentos, terapia, yoga, atividade física, aula de violão. Cachorros lambendo minhas lágrimas. Mas aquela guerra parecia perdida. Eu fracassava diariamente: me diziam que eu tinha que ficar bem. Que meus problemas não eram maiores que os de ninguém. É claro que eu sabia disso, mas não conseguia ficar bem, e essa incapacidade só me deixava pior. Eu me arrastava. Bebia muito. Chorava mais.
Mas um dia, em que não me lembro qual, eu sorri de novo. Eu olhei para o sol e senti o seu calor . Eu saí de casa não porque precisava, não por medo de acabar com minha vida enquanto estivesse sozinha, mas porque eu quis ir lá fora e tentar ser feliz de novo.
Tive alta da terapia, mas continuo com os medicamentos. Tenho esperança de em breve poder me livrar deles também - e é disso que precisamos. Nos livrar de tudo que nos nubla, nos puxa para baixo, nos isola. Estou descobrindo as músicas que gosto, que não tem nada de errado com meu corpo. Que eu só devo ficar ao lado de quem sente prazer e sorri com minha presença. As mãos que se retiraram, acompanharam pés que já não estavam seguindo minha estrada. Mas tantas outras mãos se juntaram para me erguer, me empurrar, me acarinhar, e me dar suaves tapinhas nas costas. Até bater palmas...
Descobri que não me interessam portas trancadas, ou semiabertas. Prefiro-as escancaradas, mostrando interiores tão desorganizados quanto minha casa, minhas finanças e minhas ideias. Quero uma bagunça linda, emaranhada, nítida. Quero bondade plena, e se for para ser mau, que seja, mas que seja sincero e direto, sem disfarces e delongas, para poupar-me tempo e energia.