Livros são universos. Línguas diferentes, gêneros diversos,
uma infinidade de temas. Há poemas sobre pedras no meio do caminho, enciclopédias
sobre rochas magmáticas, escritas em línguas que sequer entendemos o alfabeto.
Cada leitura é um mergulho profundo, intencional. Cada volta
aquelas páginas um novo laço. Sempre perco um tempinho pensando como aquele
livro chegou até minhas mãos, ou como minhas mãos chegaram àquele livro – e me
comprometo, e me conecto, mergulho. Antes de abrir suas páginas, eu me abro àquele
universo – e por alguns dias sinto como se fôssemos um.
Poucos foram os livros para os quais não me abri, poucos
foram os livros que não guiaram meus passos: alguns mudaram meu percurso para
todo sempre, me fazendo recuar, querer evoluir, ou dando forma a sentimentos
que eu sequer sabia ter. Alguns me colocaram novamente em pé, em momentos de angústia.
Outros me mostraram histórias que não quero partilhar, personagens corrompidos,
histórias superficiais.
Mas num universo de possibilidades literárias, existirão
histórias que nunca serão lidas, mesmo com prateleiras iluminadas, capas sedutoras,
páginas escancaradas. Falta tempo, conhecimento daquele idioma, sobram opções,
inclusive mais fáceis, como séries de TV, e vídeos de quinze segundos.
Como livros, pessoas são universos. Gêneros, línguas, tons,
temas. Só é possível entender o enredo se soubermos aquele idioma; só é
possível entender a mensagem naquelas páginas se nos comprometermos a nos abrir
a elas, profundamente. Existem livros, e também pessoas, que nos fazem
questionar nossa capacidade de leitura e interpretação, parece-nos que jamais
fomos sequer alfabetizados. Existem livros magníficos escondidos em bibliotecas
abandonadas, com capas tão discretas que jamais o abriremos: eu disse livros?
Estava falando sobre pessoas.
Só é possível ler aquilo que está dentro de nossas
habilidades, linguísticas e sociais, e isso serve para livros e pessoas. Mas
nosso comprometimento afeta nossa leitura, de livros e também pessoas. Podemos
aprender um novo idioma para ler um original ou podemos contar com a ajuda de
uma tradução, tudo depende de nosso desejo, de quão importante aquela história
é para nós.
Todos somos livros, histórias, e universos. Alguns de nós se
escancaram, outros se escondem atrás de parcas capas e folhas de papel jornal,
ou de um PDF há muito esquecido num pendrive já não abandonado. Por vezes
preferimos arrancar algumas de nossas páginas, para nos fazermos mais atraentes,
um bestseller.
Eu escolhi ser um livro aberto, mas não revelo todos os
segredos de meu enredo para qualquer um. Sou um livro aberto, em um idioma meio
esquecido, perdido em sebo antigo. Poucas pessoas se interessarão por minhas
páginas, e se abrirão para mim – mas me
interessam mais as leituras profundas, longas. Não quero ser bestseller e sim
livro de cabeceira de quem quis algum dia me ler, e compreender.