segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Creme Brulee


Oi tudo bem, como você está?

Eu estou cansada, com sono. Estou com 34 anos, professora de inglês e servidora pública federal. Estou me recuperando da maior rasteira que a vida me deu. Estou gostando de aprender a tocar violão, fazer pilates, yoga, e outras coisas.

Estou, não sou. Tudo muda e a impermanência não foi só descrita por Buda e OSHO. Já ouviram falar de um cientista, pouco conhecido, chamado Charles Darwin que postulou o seguinte: o ambiente muda, e a gente tem que mudar também?

Adoro essa galera, mas confesso que às vezes sou um pouco resistente a mudança, o que me rotularia como menos apta a sobrevivência, e definitivamente isso não é algo que eu deseje. Portanto estou tentando aceitar de coração aberto as mudanças, afinal eu sei que sou capaz de conviver com elas.

Por exemplo, eu adorei uma cerveja Red Ale da marca Tupiniquim, delícia: uma cerveja bem maltada e equilibrada, com amargor diferenciado e prolongado, conjugado com um leve toque caramelado. Notas sutis de maltes torrados e herbáceas, com final amargo. Espuma densa ... delícia de novo. Mas poha... não encontro ela em qualquer lugar, e às vezes quando  encontro, não estou financeiramente preparada para comprá-la. Adoro essa cerveja, mas não posso tomá-la com a freqüência que gostaria, então eu faço o quê? Definitivamente não vou sentar e chorar, mas vou olhar as outras opções que também me satisfazem e escolher uma delas, ou quem sabe experimentar algo novo e por fim descobrir que existem Red Ales ainda melhores que a Tupiniquim! No Carnaval, por exemplo, tentava achar vendedores que vendiam Eisenbahn, mas nem sempre encontrava, então tomava Budweiser, e se não tinha nenhuma opção eu ia de Brahma mesmo. Afinal eu queria beber cerveja. Se não achasse nenhuma que se encaixasse minimamente no meu padrão procuraria outra opção de bebida: vodka, cachaça – catuaba nunca mais, vez que foi a bebida que causou meu primeiro porre, e foi o assunto usado por meu primeiro namorado (o porre e a catuaba) para se aproximar de mim. Brincedeira: não guardo sentimentos ruins por meu ex namorado, já com a catuaba...

Temos que nos adaptar: é um perfume cuja produção foi descontinuada; um chocolate que teve sua receita alterada e já não é tão gostoso; uma casa que já não te cabe mais; uma roupa que você adorava e que já está fora de moda (pessoalmente eu pouco me importo com isso, e tenho uma calça de moletom com mais de 20 anos de amizade, já com um rombo no meio das pernas, que curto demais – vivam com isso!). Sei lá, esse planetinha vai mudando, e com ele coisas que amávamos, e consequentemente nós mesmos, que temos que aprender a conviver com a falta daquilo que amávamos e que nos definia.

Adiei muito o tornar-me vegetariana porque achava que não me adaptaria, e gostava muito do sabor da carne, até o dia que não consegui mais ignorar a dor do próximo: adaptei-me. Ainda sinto falta de umas coisas, tipo presunto e fígado com jiló; além da carne de panela da minha mãe e seus caldos de feijão e mandioca que têm mais carne que qualquer coisa. Mas me redescobri ao deixar isso para trás.

Recentemente o furacão passou por minha vida, e levou algo que eu acreditava que sempre estaria lá, mas eu sobrevivi, e estou me adaptando: novas cores, sabores e pseudo amores, que deviam me fazer bem, mas nem sempre fazem. A primeira vez que comi a trufa de chocolate com maracujá de uma marca aí, minhas papilas gustativa tiveram orgasmos múltiplos – foi uma orgia molhada em minha língua – mas mudou a receita, mudou o formato, mudou minha percepção. A decepção foi inevitável, mas mesmo assim eu insisti, até que percebi que aquela trufa não era mais a mesma, nem eu. Talvez um dia nos reencontremos, e nos entendamos novamente.

Tenho me permitido, e experimentado novos sabores, dentro dos quais tenho um favorito – mas que nunca está disponível: tipo sorvete de creme brulée. Daquelas delícias que só de pensar você saliva, o coração dá uma paradinha, e a vontade é mais forte que a dieta, que a sanidade. É tão bom que só queria ele: sorvete de creme brulée quando acordo; no café da manhã; às onze da manhã, no almoço; antes de dormir , ou melhor, ao invés de dormir. Mas nunca acho a poha do sorvete de creme brulee.  Daí cansei de sofrer por abstinência, voltei ao menu da sorveteria e decidi experimentar novidades: e aqui estou eu de novo. Um pote na mão, diante de chocolate amargo; paçoca e alguns outros. Ainda torço para poder encontrar o meu favorito com mais facilidade, mas se é impossível, prefiro adaptar-me e evoluir. E que a vida me lambuze com suas mudanças e me faça seguir sem perder a doçura e a vontade.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Apaixonar-se


Como alguém apaixonada por línguas – tanto as faladas quanto as que se soltam preguiçosas em beijos demorados – vivo a analisá-las. As primeiras mais frequentemente que as segundas. Poderia passa a vida lendo, ouvindo diversos sotaques, aprendendo novas expressões idiomáticas, estudando novos idiomas e como eles retratam a cultura, os conflitos, a história de um lugar e de um povo.

Sinto um prazer silencioso ao usar a expressão “fulano fala mais que o homem da cobra” e lembrar de um texto que li, e que explicava que esse homem que falava muito era alguém que emprestava dinheiro, e quando ele vinha cobrar de seus devedores, o homem da cobrança (o homem da cobra... assim como dizemos refri, facul, e outras palavras partidas ao meio) falava sem parar!

Expressões como saber algo ‘de cor’ que vem de saber algo ‘de coração’ assim como no inglês ‘by heart’ chegam a me arrancar suspiros apaixonados. Confesso que paixão é uma das minhas características mais marcantes. Já ouvi críticas de um ex por me dizer apaixonada por tudo: estou apaixonada por meus sapatos; apaixonada pelo meu ‘kindle’; apaixonada pelo cachorro que adotamos; apaixonada por essa nova comida; apaixonada por você.

Tudo bem, o.k (zero people killed in war today)... me apaixono facilmente, mas não sei ser diferente, apesar de entrar em frias glaciais por isso. Achei que depois da minha última decepção – ela já não é a última - nunca mais me apaixonaria, nunca mais ficaria ansiosa querendo ver alguém, esperando a mensagem ser visualizada e, com sorte (por favor!!!) respondida. Não tardou para eu me estabacar no chão novamante.

Acho o verbo ‘apaixonar-se’ em português meio sem gracinha, mas vale a pesquisa no sabichão: Paixão (do latim tardio passio -onis, derivado de passus, particípio passado de patī «sofrer») é um termo aplicado a um sentimento muito forte em relação a uma pessoa, objeto ou tema. A paixão é uma emoção intensa convincente, um entusiasmo ou um desejo sobre qualquer coisa. (Wikipedia que contou, viu?).

Depois de ver a etimologia até que eu gostei mais dela, porque acho que paixão é isso mesmo: SOFRER! É ficar se perguntando se o outro também te quer, quando ele vai te ver, até quando vai durar. É olhar o telefone durante horas, ver se ele está funcionando, travá-lo e destravá-lo de cinco em cinco segundos para saber se a pessoa leu seu recado, visualizou seu status, está com outra pessoa.

Apaixonar-se é usado no reflexivo porque, para mim, é um sofrimento que nos infligimos, não depende do outro – tanto que nos apaixonamos por grandes montes de adubo na esperança que um dia se transformem em flores. É quase como suicidar-se, matar-se aos poucos, de angústia, de vontade, sem respirar direito até que o outro te pegue nos braços.

Amo a expressão do inglês: fall in love. Apaixonar-se é queda, é tropeço, um segundo de desatenção e você não viu a pedra, caiu, bateu com a cabeça e não responde mais por seus atos. Você até tenta firmar as pernas e caminhar como se nada tivesse acontecido, mas a poeira do ‘amor’ gruda em você como o glitter que usamos no carnaval. Não há banho que resolva. Você troca a roupa de cama, de cidade, de país, limpa a casa, e quando se olha no espelho o glitter da paixão brilha na sua testa enquanto você relembra um sorriso, um beijo, ou simplesmente da pessoa atravessando a rua (paixão platônica para mim é demais – pronto falei!).

Cair no amor, despencar em queda livre, correndo o risco de se quebrar inteiro. Mas podendo também ter uma rede elástica lá embaixo que vai permitir que você se divirta sem hora para ir embora. Alerta de spoiler: a primeira opção acontece com mais freqüência, não vá achar que você é criativo se estiver sofrendo porque se apaixonou pela pessoa errada.

Mas o que a gente faz quando a paixão nos dilacera, ou simplesmente não nos faz mais feliz? Você pode escrever canções de sertanejo universitário, vestir uma calça justa, cantar com uma voz esganiçada e ficar milionário (melhor hipótese). Você pode sair por aí, experimentando boys magia, e boys lixo (ou gals...) e se apaixonar de novo, e de novo, e de novo (também acho essa  uma opção legal porque num te deixa rico, mas deixa experiente). Há pessoas que preferem sofrer sem produzir nada de legal, além de lamentos na cabeça dos amigos, gemidos e tristeza – please, não seja esse ser. Ou você pode simplesmente, ahhhhhh sou apaixonada por essa expressão: FALL OUT OF LOVE! Assim  como você tropeçou, e caiu no amor, você pode cair fora dele! Não é o máximo?

Spoiler alert de novo: não é tão fácil quanto parece. Caímos de amor por descuido, só caímos fora dele com muito esforço. Tem o gosto do beijo, o toque da mão, as melhores lembranças. A esperança de que tudo volte ao início; um recomeço.

Tem coração que dispara quando você pensa nele, escuta sua voz pausada no cantinho do seu cérebro. E quando você acha que está caindo fora, escorrega na casca de banana e cai de cara de novo: torcendo para que seja cara a cara com ele, em seus braços ou na sua cama. Apaixonar-se é queda livre, é não estar livre de um coração pesado que diz que ele vai partir a qualquer momento. E talvez por isso ele parta – partindo de novo seu coração.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

13 reasons why (not).

Tá bom, eu assumo: estou viciada no canal da Youtuber Júlia, o Jout Jout Prazer. Assisto durante horas, um vídeo atrás do outro, e quando vejo o choro compulsivo na companhia da garrafa de vinho já virou risada, e juro que não é efeito do vinho, porque tenho reações similares mesmo estando sóbria.
Um dos primeiros vídeos que assisti fala sobre fim de relacionamento, e não foi coincidência: assim que meu ex-marido saiu de casa uma amiga/ aluna (valeu Fafá) me mandou, talvez porque eu tenha reagido ao fim do casamento melhor que a maioria das pessoas reage: não fiquei insistindo para ele voltar; não fiz chantagem; fui viajar e deixei ele levar de casa tudo que fosse dele – sem fiscalização (o que culminou com ele lavando mais do que deveria); estou aceitando dividir tudo no meio apesar do dano emocional que ele me causou e sigo vivendo – apesar da desilusão e da depressão que eu havia começado a tratar dias antes da surpresa: “não te amo mais, e não quero mais estar casado: quero o divórcio'.
Nesse vídeo ela fala sobre a música Sonhos do Peninha, que transcrevo aqui:

Tudo era apenas uma brincadeira
E foi crescendo, crescendo, me absorvendo
E de repente eu me vi assim: completamente seu
Vi a minha força amarrada no seu passo
Vi que sem você não tem caminho, eu não me acho
Vi um grande amor gritar dentro de mim
Como eu sonhei um dia
Quando o meu mundo era mais mundo
E todo mundo admitia
Uma mudança muito estranha
Mais pureza, mais carinho
Mais calma, mais alegria
No meu jeito de me dar
Quando a canção se fez mais forte, mais sentida
Quando a poesia fez folia em minha vida
Você veio me contar dessa paixão inesperada
Por outra pessoa
Mas não tem revolta não
Eu só quero que você se encontre
Ter saudade até que é bom
É melhor que caminhar vazio
A esperança é um dom que eu tenho em mim
(Eu tenho sim)
Não tem desespero, não
Você me ensinou milhões de coisas
Tem um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
Certamente eu vou ser mais feliz




A análise é toda ótima (link: https://www.youtube.com/watch?v=cZTv0bUCKKI), mas tem uma parte que me identifico muito: não tem desespero, não. Você me ensinou milhões de coisas.
Cara, isso é muito verdade. Nosso relacionamento terminou de forma muito abrupta e cruel, para dizer o mínimo, mas ele me ensinou muita coisa: contas de porcentagem; a fazer molho branco; andar de bicicleta; regra de três; o nome de um monte de árvore… muita coisa, sem sarcasmo ou ironia, mas a mais importante delas foi o 'por que não?'.
Toda vez que eu estava diante de um novo desafio, e em pânico, afinal sou uma pessoal intensa em tudo, principalmente na ansiedade, ele me perguntava simplesmente: por que não? Foi assim quando fiz concurso; quando participei e passei no processo seletivo de melhor escola de inglês da minha cidade; quando tive a oportunidade de dar aulas de português para dois garotos americanos, filhos de linguistas; quando compramos o lote e decidimos construir; etc. Ele me ensinou a ser mais ousada – criou um monstro – intenso no 'por que não?'.
E por que estou contando tudo isso? Porque quero falar da série '13 reasons why' que narra a trajetória de uma adolescente que comete suicídio. A série é em flashback, e Hanna nos conta em fitas cassete as treze razões que a levaram a cometer suicídio.
Ainda, o que isso tem a ver com essa pessoinha que vos escreve? Estou deprimida, em tratamento há cerca de seis meses. Procurei um médico por que sentia uma tristeza tão grande que pensamentos suicidas começaram a transbordar de minha cabeça. Queria, planejava e chegava a um passo: de me jogar da janela do sétimo andar, ou em frente a um ônibus articulado no centro da cidade. O pensamento me estrangulava, e por vezes eu achava que não iria resistir. Com a medicação, e com a loucura que minha vida se transformou depois da separação (sem grana, sem tempo, sem equilíbrio, sem mim), a necessidade de sobrevivência venceu o desejo de apertar o botão de 'off'. Mas esses dias a bruxa voltou a me rondar.
Não sei pontuar quando, ou como ela entrou novamente em minhas ideias, mas ela está aqui, e por isso resolvi relatar os 'porquê não' do meu suicídio, mas não porque eu queira de fato fazer: em um surto eu queria tanto me matar, mas tinha ao mesmo tempo tanto medo, que escondi todas as facas da minha casa. Ou seja, na maioria da vezes eu faço minhas loucurinhas porque são apenas isso, loucurinhas, não há de fato razões para não ir adiante. Mas e seu me matar?
- Razão 01 para eu continuar viva: eu sou cética. Não acredito em reincarnação; em céu, e nem em inferno, onde todos os meus ídolos musicais estariam. Tive a sorte de ser um espermatozoide esperto que não foi recrutado para uma mera punheta; mamãe estava num dia fértil, e tanto papai quanto mamãe (será que fui feita assim ou em alguma posiçao do Kamasutra?) fizeram a conta errada da tabelinha: portanto EU SOU UM MILAGRE BIOLÓGICO – tantos outros não foram, e eu estou aqui, saudável, visualmente palatável, intelectualmente acima da média. Com essas características tenho grandes chances de virar o jogo, e voltar a ser feliz, e pode ser que isso já aconteça amanhã. E se eu morrer nem vou ficar sabendo.
- Razão 02 para eu continuar viva: sou orgulhosa, e não quero ninguém falando que eu não fui capaz. Tá uma merda sim, mas eu vou conseguir: como consegui passar no vestibular mesmo tendo estudado em escolas públicas; como consegui pegar 95% dos caras que eu quis, mesmo sendo gordinha; como eu consegui passar em um concurso público mesmo trabalhando de segunda a sábado; como eu consegui emagrecer, e engordar tudo de novo, no vigilantes do peso. Até agora eu venci 100% dos riscos de morte que a vida me propôs, e muitos dos outros que eu escolhi – não vou deixar que falem de mim.
- Razão 03 para eu continuar viva: eu ainda estou tecnicamente casada. Isso quer dizer que se eu morrer hoje todos os meus bens, e meu seguro de vida irão pro cara que cagou na minha sanidade. Imagine que presentão? Não vou dar, não. Desculpe aí, mas “eu até quero que ele se encontre”, mas 'tem revolta sim'.
- Razão 04 para eu continuar viva: minha filha. Teoricamente ela ainda não existe, mas se é para deixar meus bens materiais para alguém, que seja para ela – descrita com todo amor em um dos meus textos anteriores. Quero adotar uma menina e ajudá-la a ser um mulherão da porra! Tanto com bens materiais quanto com o amor que trago nesse coraçãozinho de pó.
- Razão 05 para eu continuar viva: os caras do meu planeta podem voltar a qualquer momento, e me levar de volta para casa, onde eu não vou me sentir tão errada, tão deslocada.
- Razão 06 para eu não cometer suicídio: não gosto de dar trabalho. Daí fico pensando na galera recolhendo meus pedaços embaixo do busão; ou da minha massa encefálica espalhada depois que eu tiver batido no solo, e a geral vomitando… fora os trâmites de reconhecimento de corpo, velório e tal.
- Razão 07 para eu não cometer suicídio: pense na decepção da minha mãe! Até pouco tempo ela não sabia que eu já tinha fumado. Da filha mocinha, que … tá bom, nunca fui princesa, mas também nunca dei trabalho, para um corpo no IML? Eu sei que ela adora falar de mim para as amigas, se gabando de todas as minhas 'conquistas'… certamente ter coragem para tomar um punhado de pílulas não seria uma delas.
- Razão 08 para eu não por fim a essa merda: tenho um monte de livro para ler e série para assistir, isso só computando o que já foi lançado, imagine o que tem por vir?
- Razão 09 para eu continuar insitindo nessa porra: eu realmente gosto de fazer raiva em algumas pessoas, e privá-las da minha presença seria um favor para elas. Vou ficar aqui, deprimida e com minha cara inchada de tanto chorar só para assombrar, irritar, e vê-las reclamando.
- Razão 10 para seguir a luta: amo causas impossíveis tipo salvar cachorro de rua. Se eu morrer não sei o que será feito dos meus peludos, além disso alguns outros poderão não ser salvos. Na verdade essa é uma das primeiras razões, mas como estou com sono a ordem está meio atrapalhada.
- Razão 11 para adiar a vinda da foiçuda: se eu cometer suicídio tudo acaba, de uma vez. Para quê fazer isso de forma agonizante se posso beber, fumar, me entupir de comida e outras cositas mais? Sei que sou ansiosa, mas gosto muito de comer e beber.
- Razão 12 para não me matar: meus amigos não ficariam satisfeitos, e eu tenho uma necessidade ridícula de tentar agradar as pessoas. Essa é uma das razões da minha depressão, eu acho. Procuro aceitação da galera, do meu pai, dos meus amigos, do boy magia…
- Razão 13 para seguir lutando: amanhã pode ser diferente. Estou tralhando para isso. Ganhei um violão e quero aprender a tocar para voltar a cantar. Quero tirar carteira de moto. Quero fazer sexo de novo, e de novo, e de novo. Quero segurar meus sobrinhos nos braços. Quero chorar novamente, de tanto rir. A verdade é que o desespero é maior, porém mais fraco que minha vontade, que minha alegria. Sei que ela está aqui, em algum lugar. Eu não a vejo mais, mas meus amigos continuam insistindo que essa alegria sou eu.

Meus amigos e minha mãe enxergam em mim alguém que quero ser. Enxergam alguém que talvez eu seja, mas que minha miopia psicológica me impeça de ver: para eles eu sou forte, bonita, alegre, solidária, sincera. Talvez eu seja tudo isso, e apenas esteja me olhando pelas lentes erradas, por isso prefiro insistir um pouco mais, e depois mais um pouco – até eu conseguir.


quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Sexo

Cara, sério! Sexo deveria ser tratado com a simplicidade intrínseca a ele, afinal dele viemos e para ele devemos retornar caso ouçamos o chamado da biologia – de deixar descendentes férteis, ou da religião – crescei e multiplicai-vos.
Sexo é necessidade de, quase, toda espécie – como precisamos respirar e comer para nos mantermos vivos como indivíduos, precisamos de sexo para nos mantermos como espécie – ainda que eu olhe para a vantagem da manutenção da espécie humana com bastante desconfiança. Afinal, somos uma espécie estúpida que seca a louça, mesmo sabendo que água evapora; destruímos o planeta, mesmo sabendo que os outros planetas existentes no universo podem não ter cerveja, e passamos roupa. Vestir roupa pra mim às vezes já é bizarro: tenho ataques internos quando vejo um bebê vestido, parece um mico com roupa. Já teve uma sensação estranha ao ver um chipanzé de camisa e calça? É assim que me sinto ao ver bebês e crianças com roupa: mas consigo conviver com a roupa, afinal cozinhar pelado pode não ser uma boa ideia: tanto pelos pêlos extras que podem cair na comida, como os respingos que podem cair em partes de seu corpo. Enfim, consigo enxergar a utilidade da roupa, mas passar um ferro quente nelas para que fiquem esticadinhas é para mim uma declaração de insanidade: depois de separar por cor, pôr na máquina (pro diabo que vou esfregar roupa, do jeito que sai da máquina eu vou…), estender no varal, esperar secar, recolher, dobrar – só aí já estou morta, pensando em roupas descartáveis ou em como usar as mesmas roupas por mais vezes sem parecer ou cheirar como um morador de rua. Imagine se antes de colocar as roupas no cabide (às vezes as coloco do avesso mesmo), que eu também odeio, mas o faço porque me poupa tempo de manhã enquanto procuro uma camiseta para ir trabalhar eu tivesse que passar horas, em pé, alisando uma roupa, em um calor infernal, espirrando feito uma lhama – tenho renite alérgica, e pagar conta de luz alta – para no momento em que eu colocar a roupa no closet, ou me colocar o sinto de segurança a 'blusinha' amassar? Não, obrigada – a vida passa e a gente nem vê.
Roupa já não é natural, passar roupa menos ainda… mas sexo! Esse deveria ser passado a limpo.
É um ato delícia, em que precisamos de poucos ingredientes básicos – pelo menos na espécie humana: vontade, consciência, consenso e, preferencialmente, e no mínimo, duas pessoas.
A maioria das pessoas já passou por algumas experiências em que não existia nem consciência, nem consenso – estamos falando aqui daqueles pegas com primo, prima, vizinha da tia, em que sequer sabemos o que estão fazendo com a gente ou o que fazemos, contudo deixemos elas de lado. Quero falar do sexo utópico: dois adultos, com corpos funcionais, e vontade. Por que não?
Porque sua virgindade é sua honra (puff… tem muito ar saindo da minha boca, aff); porque se você se 'entregar' ao seu primeiro namorado e um dia o relacionamento acabar nenhum outro homem vai te querer. Sério: ouvi isso! E acreditei até o terceiro mês do meu primeiro relacionamento, antes do qual eu ainda 'sonhava' casar virgem (imagine só o pesadelo). Guardei essas frases juntamente com o horóscopo, Papai Noel, deus, as dietas (alguns anos depois), a crença em casamentos felizes, etc… devo admitir que a gaveta está cheia.
Enfim, quando descobri que comer o bolo valia o risco, cai de boca – e literalmente toquei o foda-se. Tornei-me uma mulher muito bem resolvida, abertas a experiências, e principalmente a ser feliz.
Para aquelas mulheres que ainda têm dúvida digo o seguinte: não saímos de fábrica com marcador de quilometragem. E citando G., uma amiga minha, 'pepeka não é enfeite', e 'couro de b*ceta não dá pastel' (confesso que não entendi bem essa última, mas chorei de rir quando ela me falou…).
Tive dois relacionamentos longos, e alguns 'atalhos' entre eles – e devo confessar, pegar atalhos deveria ser mais fácil, caramba!
Peguei um atalho recentemente: lindo, largo, poderia usá-lo para várias idas e vindas, mas ele me perguntou se eu o estava usando… bem, para mim estávamos ambos nos usando mutuamente. Ele veio com um papo que a 'via' dele era muito esburacada para minha ferrari, que eu estava acostumada com outro padrão e 'pum' o atalho acabou em lugar nenhum. Ah, se ele soubesse a longa estrada entediante de onde eu tinha saído…
Depois desse, virei a direita em uma estrada novinha em folha, delícia. E eu estava bastante satisfeita, para dizer o mínimo – despreocupada, seguindo minha vidinha só aproveitando a paisagem, que é bem boa também. E poderia ter continuado assim. Mas não: a simples pergunta 'qual é a nossa?' pôs tudo a perder. Eu fiquei sem saber por onde seguir, se era uma bifurcação, se tinha que escolher, parei de aproveitar a paisagem e comecei a pensar…
E pensei demais, intensamente demais, descobri que gostava bastante daquele atalho. Merda. O pensamento, o sentimento estragam a naturalidade do sexo. Nos fazem criar expectativas.
Pedi informação, já que sozinha não conseguia entender as placas. Só me confundi mais. Chegando ao ponto que estamos agora: num texto que fala de estradas, sexo, roupas e o hábito ridículo de passá-las.
Assim como pedi informações queria poder dizer: me leve novamente para aquele canto do mundo onde nada mais importa. Mas como pensei demais talvez tenha sido jogada para fora da estrada, em uma curva inesperada. Suspiro! Queria com ele várias noites sem dormir, sem regras, sem destino, em alta velocidade. Mas o sexo não pode ser tratado com naturalidade: o tratamos como estrada, como caça, como um jogo ridículo de sedução – onde saímos perdendo e perdidos.

“Aqui, boa noite, como pego o retorno para onde estávamos antes, nos divertindo demais?”

Foto: Gio Coppi
Modelo Plus size: eu

Mini crônica da paixonite crônica

Sabes que tua vida emocional está de pés a cabeça quando sabes perfeitamente QUEM queres, não dá a mínima para o PORQUÊ queres.
Não consegues descobrir o QUANTO nem COMO ele de deseja de volta.
E como cereja do bolo, não sabes de fato O QUE queres... Apenas que é com ele!

cura

Disseram-me que eu me curaria. Mas como me curar da própria vida, da própria história, daquilo que indiscutivelmente desenhou linhas em meu ...