segunda-feira, 15 de março de 2021

 

Qual o peso de sua solidão? A verdade é que nascemos sozinhos, mesmo quando gerados juntos, cada um em seu momento, do seu jeito e com suas dores.


E assim morremos. Ainda que morramos junto a centenas de outras pessoas em um acidente aéreo, junto aos milhões exterminados pelo nazismo em câmaras de gás, ou dizimados como mera estatística num vírus de atividade global.
Nós somos únicos, nossas histórias são únicas - bem como nossas dores; nossas quedas; o esforço que fazemos para nos reerguer, para aprender a respirar quando nascemos.


Todos nós enfrentaremos traumas, perdas, nascimentos, recomeços, violências, abandonos. Todos nós nos sentiremos tão despedaçados em algum momento que mesmo a brisa mais suave parecerá desfazer ainda mais nossos frangalhos. E é aí que a solidão vem. Porque não há para quem pedir ajuda quando estamos todos em queda livre. A deriva num oceano.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/%C3%A1gua-oceano-mar-escuro-ondas-2588015/

E a tentativa de ser solidário, de manter a calma para que aqueles que amamos não se percam também, em algum momento vai fracassar. E mesmo sabendo que ninguém virá, você irá gritar. Suplicar por ajuda, por amor, para que o fim se aproxime logo. Você irá de debater, e talvez levar algumas pessoas para o fundo com você. Ainda que você tenha tentado sofrer calado, sozinho, em algum momento verá que ninguém estará de fato com você.


As vezes minha solidão é leve. Abraço-a como uma velha, e muito bem conhecida amiga. Ás vezes ela me surra como uma bola de demolição, e me pergunto quantos dias demoraria para que alguém encontrasse meu corpo caso eu simplesmente deixasse de respirar. Quantos dias meus cães sobreviveriam sem água e comida depois que eu mesma parasse de respirar. Quanto tempo eu consigo ficar sem comer, já que as feridas causadas por essa solidão me feriram tanto que todo meu corpo está fraturado.


Quanto tempo até eu desistir, e simplesmente deixar meu corpo afundar em solitária paz, já que apesar dos desesperados pedidos de ajuda, ninguém virá em meu socorro?




Seremos sempre sós, ainda que acompanhados. Mas solidão que sentimos nesse isolamento, onde nem um olhar de solidariedade vem pousar em nossas feridas, nenhuma compreensão vem segurar nossa mão, ah, essa solidão eu não desejo a ninguém.
Ela nos deixa famintos, gelados. Não há ninguém sequer para acender uma luz no corredor, ou nos lembrar de escovar os dentes. Ela esvazia nossas entranhas, e nos vemos ir embora, aos poucos, calados, sozinhos, sem a paz de um abraço.
 

cura

Disseram-me que eu me curaria. Mas como me curar da própria vida, da própria história, daquilo que indiscutivelmente desenhou linhas em meu ...