quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Sexo

Cara, sério! Sexo deveria ser tratado com a simplicidade intrínseca a ele, afinal dele viemos e para ele devemos retornar caso ouçamos o chamado da biologia – de deixar descendentes férteis, ou da religião – crescei e multiplicai-vos.
Sexo é necessidade de, quase, toda espécie – como precisamos respirar e comer para nos mantermos vivos como indivíduos, precisamos de sexo para nos mantermos como espécie – ainda que eu olhe para a vantagem da manutenção da espécie humana com bastante desconfiança. Afinal, somos uma espécie estúpida que seca a louça, mesmo sabendo que água evapora; destruímos o planeta, mesmo sabendo que os outros planetas existentes no universo podem não ter cerveja, e passamos roupa. Vestir roupa pra mim às vezes já é bizarro: tenho ataques internos quando vejo um bebê vestido, parece um mico com roupa. Já teve uma sensação estranha ao ver um chipanzé de camisa e calça? É assim que me sinto ao ver bebês e crianças com roupa: mas consigo conviver com a roupa, afinal cozinhar pelado pode não ser uma boa ideia: tanto pelos pêlos extras que podem cair na comida, como os respingos que podem cair em partes de seu corpo. Enfim, consigo enxergar a utilidade da roupa, mas passar um ferro quente nelas para que fiquem esticadinhas é para mim uma declaração de insanidade: depois de separar por cor, pôr na máquina (pro diabo que vou esfregar roupa, do jeito que sai da máquina eu vou…), estender no varal, esperar secar, recolher, dobrar – só aí já estou morta, pensando em roupas descartáveis ou em como usar as mesmas roupas por mais vezes sem parecer ou cheirar como um morador de rua. Imagine se antes de colocar as roupas no cabide (às vezes as coloco do avesso mesmo), que eu também odeio, mas o faço porque me poupa tempo de manhã enquanto procuro uma camiseta para ir trabalhar eu tivesse que passar horas, em pé, alisando uma roupa, em um calor infernal, espirrando feito uma lhama – tenho renite alérgica, e pagar conta de luz alta – para no momento em que eu colocar a roupa no closet, ou me colocar o sinto de segurança a 'blusinha' amassar? Não, obrigada – a vida passa e a gente nem vê.
Roupa já não é natural, passar roupa menos ainda… mas sexo! Esse deveria ser passado a limpo.
É um ato delícia, em que precisamos de poucos ingredientes básicos – pelo menos na espécie humana: vontade, consciência, consenso e, preferencialmente, e no mínimo, duas pessoas.
A maioria das pessoas já passou por algumas experiências em que não existia nem consciência, nem consenso – estamos falando aqui daqueles pegas com primo, prima, vizinha da tia, em que sequer sabemos o que estão fazendo com a gente ou o que fazemos, contudo deixemos elas de lado. Quero falar do sexo utópico: dois adultos, com corpos funcionais, e vontade. Por que não?
Porque sua virgindade é sua honra (puff… tem muito ar saindo da minha boca, aff); porque se você se 'entregar' ao seu primeiro namorado e um dia o relacionamento acabar nenhum outro homem vai te querer. Sério: ouvi isso! E acreditei até o terceiro mês do meu primeiro relacionamento, antes do qual eu ainda 'sonhava' casar virgem (imagine só o pesadelo). Guardei essas frases juntamente com o horóscopo, Papai Noel, deus, as dietas (alguns anos depois), a crença em casamentos felizes, etc… devo admitir que a gaveta está cheia.
Enfim, quando descobri que comer o bolo valia o risco, cai de boca – e literalmente toquei o foda-se. Tornei-me uma mulher muito bem resolvida, abertas a experiências, e principalmente a ser feliz.
Para aquelas mulheres que ainda têm dúvida digo o seguinte: não saímos de fábrica com marcador de quilometragem. E citando G., uma amiga minha, 'pepeka não é enfeite', e 'couro de b*ceta não dá pastel' (confesso que não entendi bem essa última, mas chorei de rir quando ela me falou…).
Tive dois relacionamentos longos, e alguns 'atalhos' entre eles – e devo confessar, pegar atalhos deveria ser mais fácil, caramba!
Peguei um atalho recentemente: lindo, largo, poderia usá-lo para várias idas e vindas, mas ele me perguntou se eu o estava usando… bem, para mim estávamos ambos nos usando mutuamente. Ele veio com um papo que a 'via' dele era muito esburacada para minha ferrari, que eu estava acostumada com outro padrão e 'pum' o atalho acabou em lugar nenhum. Ah, se ele soubesse a longa estrada entediante de onde eu tinha saído…
Depois desse, virei a direita em uma estrada novinha em folha, delícia. E eu estava bastante satisfeita, para dizer o mínimo – despreocupada, seguindo minha vidinha só aproveitando a paisagem, que é bem boa também. E poderia ter continuado assim. Mas não: a simples pergunta 'qual é a nossa?' pôs tudo a perder. Eu fiquei sem saber por onde seguir, se era uma bifurcação, se tinha que escolher, parei de aproveitar a paisagem e comecei a pensar…
E pensei demais, intensamente demais, descobri que gostava bastante daquele atalho. Merda. O pensamento, o sentimento estragam a naturalidade do sexo. Nos fazem criar expectativas.
Pedi informação, já que sozinha não conseguia entender as placas. Só me confundi mais. Chegando ao ponto que estamos agora: num texto que fala de estradas, sexo, roupas e o hábito ridículo de passá-las.
Assim como pedi informações queria poder dizer: me leve novamente para aquele canto do mundo onde nada mais importa. Mas como pensei demais talvez tenha sido jogada para fora da estrada, em uma curva inesperada. Suspiro! Queria com ele várias noites sem dormir, sem regras, sem destino, em alta velocidade. Mas o sexo não pode ser tratado com naturalidade: o tratamos como estrada, como caça, como um jogo ridículo de sedução – onde saímos perdendo e perdidos.

“Aqui, boa noite, como pego o retorno para onde estávamos antes, nos divertindo demais?”

Foto: Gio Coppi
Modelo Plus size: eu

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