Cara, sério! Sexo
deveria ser tratado com a simplicidade intrínseca a ele, afinal dele
viemos e para ele devemos retornar caso ouçamos o chamado da
biologia – de deixar descendentes férteis, ou da religião –
crescei e multiplicai-vos.
Sexo é necessidade
de, quase, toda espécie – como precisamos respirar e comer para
nos mantermos vivos como indivíduos, precisamos de sexo para nos
mantermos como espécie – ainda que eu olhe para a vantagem da
manutenção da espécie humana com bastante desconfiança. Afinal,
somos uma espécie estúpida que seca a louça, mesmo sabendo que
água evapora; destruímos o planeta, mesmo sabendo que os outros
planetas existentes no universo podem não ter cerveja, e passamos
roupa. Vestir roupa pra mim às vezes já é bizarro: tenho ataques
internos quando vejo um bebê vestido, parece um mico com roupa. Já
teve uma sensação estranha ao ver um chipanzé de camisa e calça?
É assim que me sinto ao ver bebês e crianças com roupa: mas
consigo conviver com a roupa, afinal cozinhar pelado pode não ser
uma boa ideia: tanto pelos pêlos extras que podem cair na comida,
como os respingos que podem cair em partes de seu corpo. Enfim,
consigo enxergar a utilidade da roupa, mas passar um ferro quente
nelas para que fiquem esticadinhas é para mim uma declaração de
insanidade: depois de separar por cor, pôr na máquina (pro diabo
que vou esfregar roupa, do jeito que sai da máquina eu vou…),
estender no varal, esperar secar, recolher, dobrar – só aí já
estou morta, pensando em roupas descartáveis ou em como usar as
mesmas roupas por mais vezes sem parecer ou cheirar como um morador
de rua. Imagine se antes de colocar as roupas no cabide (às vezes as
coloco do avesso mesmo), que eu também odeio, mas o faço porque me
poupa tempo de manhã enquanto procuro uma camiseta para ir trabalhar
eu tivesse que passar horas, em pé, alisando uma roupa, em um calor
infernal, espirrando feito uma lhama – tenho renite alérgica, e
pagar conta de luz alta – para no momento em que eu colocar a roupa
no closet, ou me colocar o sinto de segurança a 'blusinha' amassar?
Não, obrigada – a vida passa e a gente nem vê.
Roupa já não é
natural, passar roupa menos ainda… mas sexo! Esse deveria ser
passado a limpo.
É um ato delícia,
em que precisamos de poucos ingredientes básicos – pelo menos na
espécie humana: vontade, consciência, consenso e,
preferencialmente, e no mínimo, duas pessoas.
A maioria das
pessoas já passou por algumas experiências em que não existia nem
consciência, nem consenso – estamos falando aqui daqueles pegas
com primo, prima, vizinha da tia, em que sequer sabemos o que estão
fazendo com a gente ou o que fazemos, contudo deixemos elas de lado.
Quero falar do sexo utópico: dois adultos, com corpos funcionais, e
vontade. Por que não?
Porque sua
virgindade é sua honra (puff… tem muito ar saindo da minha boca,
aff); porque se você se 'entregar' ao seu primeiro namorado e um dia
o relacionamento acabar nenhum outro homem vai te querer. Sério:
ouvi isso! E acreditei até o terceiro mês do meu primeiro
relacionamento, antes do qual eu ainda 'sonhava' casar virgem
(imagine só o pesadelo). Guardei essas frases juntamente com o
horóscopo, Papai Noel, deus, as dietas (alguns anos depois), a
crença em casamentos felizes, etc… devo admitir que a gaveta está
cheia.
Enfim, quando
descobri que comer o bolo valia o risco, cai de boca – e
literalmente toquei o foda-se. Tornei-me uma mulher muito bem
resolvida, abertas a experiências, e principalmente a ser feliz.
Para aquelas
mulheres que ainda têm dúvida digo o seguinte: não saímos de
fábrica com marcador de quilometragem. E citando G., uma amiga
minha, 'pepeka não é enfeite', e 'couro de b*ceta não dá pastel'
(confesso que não entendi bem essa última, mas chorei de rir quando
ela me falou…).
Tive dois
relacionamentos longos, e alguns 'atalhos' entre eles – e devo
confessar, pegar atalhos deveria ser mais fácil, caramba!
Peguei um atalho
recentemente: lindo, largo, poderia usá-lo para várias idas e
vindas, mas ele me perguntou se eu o estava usando… bem, para mim
estávamos ambos nos usando mutuamente. Ele veio com um papo que a
'via' dele era muito esburacada para minha ferrari, que eu estava
acostumada com outro padrão e 'pum' o atalho acabou em lugar nenhum.
Ah, se ele soubesse a longa estrada entediante de onde eu tinha
saído…
Depois desse, virei
a direita em uma estrada novinha em folha, delícia. E eu estava
bastante satisfeita, para dizer o mínimo – despreocupada, seguindo
minha vidinha só aproveitando a paisagem, que é bem boa também. E
poderia ter continuado assim. Mas não: a simples pergunta 'qual é a
nossa?' pôs tudo a perder. Eu fiquei sem saber por onde seguir, se
era uma bifurcação, se tinha que escolher, parei de aproveitar a
paisagem e comecei a pensar…
E pensei demais,
intensamente demais, descobri que gostava bastante daquele atalho.
Merda. O pensamento, o sentimento estragam a naturalidade do sexo.
Nos fazem criar expectativas.
Pedi informação,
já que sozinha não conseguia entender as placas. Só me confundi
mais. Chegando ao ponto que estamos agora: num texto que fala de
estradas, sexo, roupas e o hábito ridículo de passá-las.
Assim como pedi
informações queria poder dizer: me leve novamente para aquele canto
do mundo onde nada mais importa. Mas como pensei demais talvez tenha
sido jogada para fora da estrada, em uma curva inesperada. Suspiro!
Queria com ele várias noites sem dormir, sem regras, sem destino, em
alta velocidade. Mas o sexo não pode ser tratado com naturalidade: o
tratamos como estrada, como caça, como um jogo ridículo de sedução
– onde saímos perdendo e perdidos.
“Aqui, boa noite,
como pego o retorno para onde estávamos antes, nos divertindo
demais?”
Foto: Gio Coppi
Modelo Plus size: eu
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