quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Apaixonar-se


Como alguém apaixonada por línguas – tanto as faladas quanto as que se soltam preguiçosas em beijos demorados – vivo a analisá-las. As primeiras mais frequentemente que as segundas. Poderia passa a vida lendo, ouvindo diversos sotaques, aprendendo novas expressões idiomáticas, estudando novos idiomas e como eles retratam a cultura, os conflitos, a história de um lugar e de um povo.

Sinto um prazer silencioso ao usar a expressão “fulano fala mais que o homem da cobra” e lembrar de um texto que li, e que explicava que esse homem que falava muito era alguém que emprestava dinheiro, e quando ele vinha cobrar de seus devedores, o homem da cobrança (o homem da cobra... assim como dizemos refri, facul, e outras palavras partidas ao meio) falava sem parar!

Expressões como saber algo ‘de cor’ que vem de saber algo ‘de coração’ assim como no inglês ‘by heart’ chegam a me arrancar suspiros apaixonados. Confesso que paixão é uma das minhas características mais marcantes. Já ouvi críticas de um ex por me dizer apaixonada por tudo: estou apaixonada por meus sapatos; apaixonada pelo meu ‘kindle’; apaixonada pelo cachorro que adotamos; apaixonada por essa nova comida; apaixonada por você.

Tudo bem, o.k (zero people killed in war today)... me apaixono facilmente, mas não sei ser diferente, apesar de entrar em frias glaciais por isso. Achei que depois da minha última decepção – ela já não é a última - nunca mais me apaixonaria, nunca mais ficaria ansiosa querendo ver alguém, esperando a mensagem ser visualizada e, com sorte (por favor!!!) respondida. Não tardou para eu me estabacar no chão novamante.

Acho o verbo ‘apaixonar-se’ em português meio sem gracinha, mas vale a pesquisa no sabichão: Paixão (do latim tardio passio -onis, derivado de passus, particípio passado de patī «sofrer») é um termo aplicado a um sentimento muito forte em relação a uma pessoa, objeto ou tema. A paixão é uma emoção intensa convincente, um entusiasmo ou um desejo sobre qualquer coisa. (Wikipedia que contou, viu?).

Depois de ver a etimologia até que eu gostei mais dela, porque acho que paixão é isso mesmo: SOFRER! É ficar se perguntando se o outro também te quer, quando ele vai te ver, até quando vai durar. É olhar o telefone durante horas, ver se ele está funcionando, travá-lo e destravá-lo de cinco em cinco segundos para saber se a pessoa leu seu recado, visualizou seu status, está com outra pessoa.

Apaixonar-se é usado no reflexivo porque, para mim, é um sofrimento que nos infligimos, não depende do outro – tanto que nos apaixonamos por grandes montes de adubo na esperança que um dia se transformem em flores. É quase como suicidar-se, matar-se aos poucos, de angústia, de vontade, sem respirar direito até que o outro te pegue nos braços.

Amo a expressão do inglês: fall in love. Apaixonar-se é queda, é tropeço, um segundo de desatenção e você não viu a pedra, caiu, bateu com a cabeça e não responde mais por seus atos. Você até tenta firmar as pernas e caminhar como se nada tivesse acontecido, mas a poeira do ‘amor’ gruda em você como o glitter que usamos no carnaval. Não há banho que resolva. Você troca a roupa de cama, de cidade, de país, limpa a casa, e quando se olha no espelho o glitter da paixão brilha na sua testa enquanto você relembra um sorriso, um beijo, ou simplesmente da pessoa atravessando a rua (paixão platônica para mim é demais – pronto falei!).

Cair no amor, despencar em queda livre, correndo o risco de se quebrar inteiro. Mas podendo também ter uma rede elástica lá embaixo que vai permitir que você se divirta sem hora para ir embora. Alerta de spoiler: a primeira opção acontece com mais freqüência, não vá achar que você é criativo se estiver sofrendo porque se apaixonou pela pessoa errada.

Mas o que a gente faz quando a paixão nos dilacera, ou simplesmente não nos faz mais feliz? Você pode escrever canções de sertanejo universitário, vestir uma calça justa, cantar com uma voz esganiçada e ficar milionário (melhor hipótese). Você pode sair por aí, experimentando boys magia, e boys lixo (ou gals...) e se apaixonar de novo, e de novo, e de novo (também acho essa  uma opção legal porque num te deixa rico, mas deixa experiente). Há pessoas que preferem sofrer sem produzir nada de legal, além de lamentos na cabeça dos amigos, gemidos e tristeza – please, não seja esse ser. Ou você pode simplesmente, ahhhhhh sou apaixonada por essa expressão: FALL OUT OF LOVE! Assim  como você tropeçou, e caiu no amor, você pode cair fora dele! Não é o máximo?

Spoiler alert de novo: não é tão fácil quanto parece. Caímos de amor por descuido, só caímos fora dele com muito esforço. Tem o gosto do beijo, o toque da mão, as melhores lembranças. A esperança de que tudo volte ao início; um recomeço.

Tem coração que dispara quando você pensa nele, escuta sua voz pausada no cantinho do seu cérebro. E quando você acha que está caindo fora, escorrega na casca de banana e cai de cara de novo: torcendo para que seja cara a cara com ele, em seus braços ou na sua cama. Apaixonar-se é queda livre, é não estar livre de um coração pesado que diz que ele vai partir a qualquer momento. E talvez por isso ele parta – partindo de novo seu coração.

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