segunda-feira, 18 de junho de 2018

Mana, você não precisa disso!

Eu tenho muitas amigas, as melhores na verdade. Sempre dizem que homens são excelentes companheiros uns pros outros; que se protegem quando estão fazendo ‘*erda’ e tudo mais, em oposição as mulheres que são falsas e dissimuladas, invejosas. Quando eu escuto isso eu fico me perguntando em que sucursal do inferno essas manas estão fazendo amizade com essas minas.   Minhas amigas jogam a real na cara.  Se for preciso me chamam de burra; me  deixam puta quando colocam certas cartas na mesa, cartas essa que se mostram certeiras pro meu Royal  Straight Flush. Chamam-me carinhosamente de ‘vaca’, ‘filha-da-puta’, ‘piranha’ porque sabem que de fato sou uma ‘cincesa’ , assim como eu as chamo de coisas igualmente carinhosas.   Enchemos a cara juntas para esvaziar o coração; nos damos colo, carinho e muito valor. Dividimos a vida juntas para que não dividamos mais nada. Entretanto essas são minhas amigas – e da mesma forma que você tem que fugir quando vir um boy lixo, tem que se benzer e dar meia volta quando vir a sacola de lixo feminina que caiu do caminhão e que vai tentar ferrar com seus esquemas, na melhor das hipóteses, ou com sua sanidade mental, na pior delas.   A primeira mina traíra com quem cruzei minha vida foi uma parente, que quando eu tinha uns cinco anos, e algum excesso de peso – que me fazia parecer mais ‘mocinha’ que eu era – sentiu inveja dos meus ‘peitinhos de gordura’ e me lascou uma dentada que quase realizou uma mastectomia total. Chorei feito uma diaba, e a evitei para todo sempre.   Depois, minha querida prima, a quem eu estimo até hoje, companheira das gandaias, culpada por meu primeiro beijo. Jogava os boys todos na minha mão, exceto os que ela queria. Numa época em que não existiam celulares e redes sociais, ela furtou o papel onde o Daniel – segundo menino que eu beijei na vida, tinha escrito o telefone dele. Eu tinha doze anos, faria treze no mês seguinte. Ele me ligou no dia do meu aniversário, e eu já não sabia mais quem ele era.   Mas eu não era assim tão despachada, e assim que passaram as férias, e os boys que Priscila jogava na minha mão quando estávamos juntas – voltei para minha concha, e fiquei lá ostrando, esperando que alguém me notasse. Foi aí que uma amiga fez uma festa, e eu vi ali a oportunidade de descolar o mocinho por quem eu tinha uma paixonite. Eu estava o mais bonita que conseguia naquela época – eu era feia para desgraçar – estava super animada, mas minha timidez não me deixava me aproximar, então uma amiga de uma amiga me ouviu falando como eu estava afim dele, e se ofereceu para ir lá me ‘ajudar’. Ajudou-me livrando-me de um boy que, eu descobria anos depois, era mais que lixo. Mas ela ficou com ele, eu não. Embora tenha tido a oportunidade anos depois. Essa experiência me ajudou – nunca mais pedi a ninguém para resolver meus esquemas: eu chego, puxo papo e deixo acontecer – se tiver que acontecer.   Anos depois, logo após o término de um relacionamento de cinco anos, e sem nenhum freio, foi minha vez de ser A filha da puta. Conheci um cara que era um gatinho, coincidentemente também chamado Daniel – era amigo do peguete de uma amiga. Então cheguei pra minha outra amiga (as duas são irmãs e minhas manas até hoje), e disse que ‘trocinho, hein?’ Ela me disse que também achava e que estava de olho nele. Transcrevo o que lembro do meu ‘discurso’: então quem fica com ele, vamos tirar no par-ou-ímpar?   É claro que, doce como ela é, não topou. Então eu apenas disse, então eu fico com ele. Fiquei com ele algumas vezes, ela namorou com ele por alguns anos depois. E olhando para trás eu acho que realmente não deveríamos ter feito par-ou-ímpar e nenhuma de nós deveria ter ficado com ele. Que foi muito mais FDP que eu, a menina fura olho, minha prima ladra de telefone e a mordedora de peitos junto.   Depois dessa experiência, quando vi que tinha me comportado de forma horrível com uma mana que amo, mudei. Decidi nunca mais competir com amigas ou conhecidas por causa de homem. Nenhum vale a quebra. Com tanto peixe no mar, não preciso me indispor com minhas semelhantes. Estendi o comportamento até para pessoas que mal conheço.     Há pouco tempo, após o término de um outro relacionamento de onze anos, estava em uma festa – com uma das manas acima, e um ‘mocinho’ estava cheio de idéias para cima de mim, pediu até meu telefone. Eu vi que uma mina estava por perto, e o olhava muito. Conversei com o pessoal e descobri que eles já tinham se ‘relacionado de forma não exclusiva’, mas que ela tinha uma ‘serious crush on him’. Puxei meu carro, e vazei. Não quero ver minha irmã na bad por minha causa. O cara pode ser o cretino que quiser, mas não terá minha ajuda, simples assim.   Então, pensando em tudo isso, e na raiva que sinto do embuste do meu ex toda vez que lembro que fui traída, analisei o papel da namorada dele em toda a situação. Engraçado que não nutri raiva por ela sequer uma vez. De maneira geral penso que ela deve ser uma mulher interessante – o desgraçado tem bom gosto, preciso admitir. E sinto um pouco de pena, porque sei como ela está se sentindo: cegamente apaixonada por um homem inteligente, interessante e de sorriso bonito. E receio que ele faça com ela o que fez com todas nós que viemos antes: a seduza, a manipule, tente aprisioná-la em seu copo, e traia e abandone depois. Não sinto raiva porque não foi ela quem traiu minha confiança. Ela não mantinha nenhum laço comigo, e se cruzou meu caminho, sequer me lembro, apesar de recordar de todas as vezes que a pulga saltava atrás da minha orelha quando ele falava seu nome.   Você provavelmente estava em um relacionamento infeliz, e se prendeu a esperança de recomeçar. Mas mina, ele era casado, e você também! Vocês não precisavam disso.  No caso dele: um  cretino, simples assim. Que pode fazer contigo o que fez comigo.  No seu, cadê a empatia? Você gostaria de estar  no meu lugar? Sinceramente não desejo seu mal, quero viver em um mundo onde as pessoas são felizes, principalmente as categorias que já foram impedidas de votar e comercializadas como mercadoria. Mas poha!   Penso nisso toda vez que o Facebook ou o Instagram me indicam você como possível amiga, até eles sabem que a amizade é muito melhor que a furação de olho – sorte para você, que eu continuo apenas olhando o mar, enquanto molho meus pés.  

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