terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Poeira

Passará. Mas por ora tudo o que sinto é que um furacão passou e transformou tudo em pó. Não há coração partido, ou dilacerado, ou dolorido: há poeira onde antes havia uma admiração apaixonada, um amor admirado,  um músculo pulsante, motor de minha vida... o pó se acumula no fundo de uma cavidade vazia e escurecida. Onde antes havia fé, hoje há abandono.
Uma camada grossa cobre cada canto desse quarto.
Vivo em uma casa arrasada pelo furacão, onde não existem gavetas, armários ou prateleiras. Tudo foi arrasado: as roupas jazem no chão, os copos quebrados e as promessas desfeitas. As janelas fechadas, como o coração, e cobertas de poeira e lágrimas do céu.
Meu jardim coberto por mato, sem flores, ou amores... tudo que brota é decepção.
Haverá outro amor, talvez, e enquanto giro no furacão que passa pela minha vida consigo vislumbrar dias de sorriso fácil, de sol que aquece sem arder a pele, de mobília livre de poeira.
Enquanto giro tento apenas não me perder de mim, ou me encontrar, e me amar independente de quem eu seja... afinal, não me reconheço mais nesse espiral sem lógica que virou minha vida: a vida que vivo e que parece não ser minha. De quem é?
Enquanto isso tenho lágrimas e pó, e qualquer brisa revolve a poeira do que antes era meu coração... E chovo cinza em dias quaisquer.

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