domingo, 29 de abril de 2018
Fogo
quarta-feira, 25 de abril de 2018
Quando a dor acaba?
sexta-feira, 20 de abril de 2018
Verbos
quinta-feira, 19 de abril de 2018
Não quero um namorado
quinta-feira, 12 de abril de 2018
Ele
Ter-te em meu abraço é por demais arriscado. Estarás muito próximo de meu coração, e talvez ele se abra em demasia e queira abrigar-te por tempos mais longos que duas garrafas de vinho e o segurar de minha respiração.
Eu te pedirei para ficar, e você ficará em meu peito, independente do que faça teu corpo.
Ter-te assim tão perto é perigoso, incontrolável. É como tentar deter o cheiro do café recém passado numa casinha na serra ao amanhecer.
Resisto, mantenho a distância... Temo apergar-me demais ao aroma irresistível, inomeável, e não palpável que existe entre nós.
segunda-feira, 9 de abril de 2018
Doença Terminal
Daí depois de mais de um ano tentando achar explicações para os seus sintomas, ela vai ao médico – o diagnóstico? CÂNCER.
Ela começa o tratamento na sexta-feira, no domingo ele diz que não a ama mais, mas que não quer tomar nenhuma atitude precipitada. Ela pede a ele que pense, que o ama. Na quinta-feira ela diz que não há relacionamentos perfeitos, e que apesar de todos os seus defeitos ela o quer ao seu lado. Ele responde que apesar de todas as suas qualidades não a quer mais.
Ele sai de casa, sem olhar para traz na quinta-feira seguinte, menos de duas semanas depois do início de seu tratamento. Ela então mora sozinha, com seus amigos gatos. E cuida da vida que fora pensada para dois. Prossegue seu tratamento de forma intensiva. Além de sua doença, enfrenta a separação, o eco das palavras cruéis que ele dissera antes de partir; e a solidão. Exceto por sua mãe, ninguém de sua família parece perceber que sua doença pode levá-la a morte.
Não há visitas, não há telefonemas, não há mensagens de estímulo. Por vezes ela chora em soluços no colo de sua mãe.
Com o passar do tempo ela se acostuma à dor causada pela doença. Ainda sente a morte ao seu lado, chamando-a como um amante lascivo que porá fim aos seus dias solitários. Ela opta por ignorar o convite, e aceita todos os convites para sair.
Ela não está curada, mas sabe que ficar deitada na cama não ajudará. Afinal, a morte está a sua espreita – bons amigos e sorrisos a afastam.
Por vezes ela se perde, e flerta com as dores mais profundas: do abandono do marido, dos familiares – acostumou-se a decepção vinda dos homens, grosseiros, agressivos, dominantes. E mergulha da dor de sua doença. Sente febre, calafrios, não tem forças para se levantar da cama. Mas levanta-se assim mesmo.
Ela continua o tratamento para sua doença: aceita qualquer sugestão – benzedeira, chá de babosa, orações, meditação, água quente com sal. Se não ajudar, pelo menos não deve atrapalhar. Os tratamentos não atrapalhavam, mas as pessoas sim. Diziam: mas você tem que ficar bem; muita gente passa por problemas muito piores, e sobrevive. O que ela estava fazendo, senão sobreviver?
Estava sobrevivendo a algo que nenhuma dessas pessoas jamais tinha experimentado: um divórcio e uma doença, ao mesmo tempo.
Pausa para algumas perguntas: você já teve apendicite? Consiste na inflamação de uma carninha no final do intestino. Uma parada inútil, que mede, normalmente, entre cinco e dez centímetros. Se esse dedinho interno infecciona causa uma dor filha da puta, e pode levar a morte. Eu não senti tanta dor assim, fui trabalhar no dia, depois caminhei uns dois quilômetros para dar uma aula, e só depois fui ao médico... achava que se tratava de uma infecção urinária corriqueira. Outra pergunta: você já foi picado por abelha? Eu não. Portanto não sei o quanto dói, mas posso imaginar, porque fui ferroada por três maribondos cavalo, em uma mesma mão, e não consegui movimentá-la por uma semana. Além da picada de abelha doer – dizem que dói, e por analogia eu também imagino que sim, tem a merda do choque anafilático, e uma única picada pode levar a morte. Assim como a novalgina – um medicamento usado para analgesia que pode te matar assim: puff!
Então, voltando a ‘ela’... apenas ela sabia o tamanho de sua dor. Quando achava que iria morrer corria para os braços de sua mãe – para que ela a segurasse nesse mundo por mais algum tempo. A dor a deixava sensível, mais emocional que de costume, e por vezes ela vomitava. Vomitava inclusive em quem mais lhe apoiava, mas não era intencional. Ela apenas não conseguia controlar. E assim, entre vômitos, pedidos de socorro, medicação, terapias e colo de mãe o tempo foi passando. E os sintomas ficando cada vez mais espaçados.
A morte ainda a rondava, e os comprimidos também. A Solidão tornara-se uma grande amiga, que a lembrava o tempo todo de como vencer: sozinha.
Os homens de sua família ignoraram sua dor – talvez ela fosse para eles um problema grande demais, uma dose muito grande de novalgina, ou uma picada de abelha. Preferiram afugentá-la como a um inseto inconveniente – com tapas, e movimentos bruscos, ou ainda virando um copo e prendendo-a em uma redoma asséptica. As mulheres, simplesmente a ignoraram, pareciam suspirar aliviadas – graças a deus que não é comigo. A mãe a pegou no colo, e a salvou.
A mãe contara com a ajuda de anjos de saia, e enormes corações, colhidos pela doente ao longo de sua vida. Salvaram sua vida. O pior havia finalmente passado. E os cacos podiam ser usados na reconstrução.
Troque a palavra câncer por depressão.
Troque a palavra gatos por cachorros.
Fim.
sexta-feira, 6 de abril de 2018
A gente é feito pra acabar
'O ser humano é um animal racional'.
Gostaria muito de saber quem foi a primeira ameba que começou a espalhar essa fake news. Ameba não, porque amebas não falam, portanto apenas um papagaio, um corvo ou um ser humano poderiam ter começado esse boato. Meu profundo conhecimento de ornitologia diz que papagaios e corvos apenas repetem o que foram ensinados - jamais me esquecerei do poema de Edgar Allan Poe e seu corvo agourento, Nevermore... Então, através da pouca lógica que tenho só posso presumir que foi um humanídeo que começou com essa falácia.
Entendam não estou dizendo que sejamos estúpidos ou incapazes. Nossos cérebros são máquinas elaboradíssimas capazes de intrincadas abstrações. Compomos sinfonias, criamos máquinas para quase tudo - cafeteira, batedeira, panificadora, sanduicheira, microondas. Jogamos nossos semelhantes no espaço sideral, e alguns de nós são tão criativos que criam a possibilidade de aquilo ser mentira. Adoro analisar esses cérebros exóticos, mas com uma certa distância porque tenho medo de ser contagioso.
Escrevemos poemas, e histórias de amor tão lindas quanto irreais. Do mofo tiramos a penicilina; de um medicamento pensado para problemas cardíacos, criamos a pílula do amor azul. De um xarope a Coca-Cola.
Mas mesmo assim continuo achando a gente bem limitado, viu?!
Pergunte-me por quê, por favor! Perguntou?!
Se não, vou responder assim mesmo. Demoramos uma vida para aprender lições as quais somos expostos todos os dias. Tipo, meus cachorros, todos, só tentaram atacar a churrasqueira uma vez: se queimaram e depois ficaram de boas, sentados olhando para mim enquanto como minha batata assada e meu pão de alho. Eles sabem que o olhar amendoado, mirando em meu coração e as orelhas murchas são muito mais eficientes e menos doloridos que um jump na churrasqueira.
A gente não. Quer um exemplo?!Todo dia a vida esfrega em nossa cara que tudo acaba um dia, mas a gente falta morrer cada vez que acontece.
A gente mama, o leite acaba, e a gente chora. O banho acaba, a gente chora. O achocolatado acaba, a gente chora. A primeira infância acaba, a gente sofre.
Tudo acaba, a gente já viu essa lição tantas vezes. Ela até já deve ter caido em alguma de suas provas, que também acabaram.
A escola acabou, e você chorou como uma criança sem leite, porque não iria mais ver seus amigos todos os dias.
Daí você percebeu com o tempo que aquelas amizades também acabaram... É a lei da natureza!
Daí a gente passa uma vida, tentando parecer para sempre jovem, bonito e interessante, correndo atrás de um amor que vai durar para sempre... Se esquecendo, que tudo finda.
Então pense aí, se tudo finda porquê simplesmente não aproveitar o intervalo entre o começo e o momento que os créditos começam a subir?! E eles vão subir, seja ao término de um filme ou na assinatura do divórcio, que encerra um casamento que, apesar do que você sonhou, não era pra ser eterno. O casamento, festa e relacionamento, sempre acaba: no fim talvez estejamos bêbados, infelizes ou mortos... Mas ele vai acabar.
Aproveite a jornada, pois ela se encerra no destino, e a viagem de férias também terá o mesmo... Destino.
Acabamos. Portanto nos acabemos em amor, em riso frouxo, uns nos braços dos outros, nos acabemos onde encontramos a felicidade, sem pensar no futuro. Ele é o presente do passado, e encontrar a alegria no agora é nos presentear.
Entregar-me-ei em queda livre aquilo que me faz feliz, ainda que ela dure uma hora. Afinal eu não deixo de pular carnaval porque ele acaba em alguns dias. Eu me permito saborear meu vinho mesmo sabendo que aquela é a última garrafa. O relógio bate meia noite e a festa acaba para a Cinderela... mas houve festa, houve dança e valeu a pena. Não porque ela viveu feliz pra sempre com o príncipe. A abóbora virou carruagem, os ratos se transformaram em cocheiros. E é claro que valeu a pena. Portanto acaba-se, na alegria e nos braços de um amor que te faz feliz; vire aquele copo de cerveja com sede; deixe o sol invadir a sala e acabar com a escuridão.
E que ao fim você perceba que tudo valeu a pena.
the end.
domingo, 1 de abril de 2018
Soldado ao chão
cura
Disseram-me que eu me curaria. Mas como me curar da própria vida, da própria história, daquilo que indiscutivelmente desenhou linhas em meu ...
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Hoje é domingo, de Páscoa. Acordo após ter ido pra cama cedo, no dia anterior. Raridade eu ir para cama, e principalmente dormir no dia...
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O que você responderia se um desconhecedor do vernáculo lhe perguntasse o significado da expressão “um cão chupando manga”? Pessoalm...
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SE VOCÊ TEM DEPRESSÃO, você não está sozinho. Em agosto de 2017 eu fui diagnosticada com depressão, após um ano tentando, sozinha, contorna...