Não, as coisas não acontecem por uma razão celestial. É a gente, que teima em seguir e ser feliz que consegue encontrar um lado bom em tudo. Somos nós que ao ganhar uma tonelada de limão da vida resolvemos fazer com ele limonada, mousse e caipirinha. A gente toma limão com água em jejum; usa como produto de limpeza; substitui o 'engov' e o boldo por limão; vende; dá para os amigos.
Somos nós, seres adaptáveis que pegamos as pequenas e grandes tragédias de nossa vida e tentamos aprender com elas; nesse caso aqui tá claro que foi a galinha que criou o ovo, digo problema. O B.O. veio primeiro, e a gente resolveu fazer um omelete com ele.
O problema, quase sempre estava lá, a gente que pegou o problema, alimentou, deu água, vacina. Era para ser só um lar temporário, mas a gente se apega. Se apega ao trabalho que não dá prazer; a alimentação rápida e pouco saudável; ao cigarro nos fins de semana; ao relacionamento merda.
Daí quando a gente assusta, tem 39 cachorros e 58 gatos no quintal, para ajudar a superar o fardo de acordar cedo para ir para o trabalho que paga mal, te emburrece, e te dá vontade de perder o réu primário sem pestanejar. Quando você cai em si, já não consegue levantar, tamanho o peso do seu pânceps, que tinha forma de 'pãozinho sovado' e agora é uma panhoca tamanho família feita pra comemorar o aniversário de 85 anos da padaria da cidade. Quando você percebe sua saúde foi-se como a fumaça que sai da sua boca, depois de enegrecer seus pulmões, e calar sua voz, antes tão afinada.
Quando você vê, o amor que veio te fazer uma visita se instalou por anos, bebeu e comeu de sua energia vital, te deprimiu; te traiu; te agrediu e te deixou pra traz, pra morrer sozinha e lentamente. Mas a gente? A gente chora deitado na merda durante um tempo, e quando cansa - não costuma demorar muito não - a gente pega uma pá, um carrinho de mão, junta a merda e vai fazer um jardim. Enquanto a gente cuida da terra, deixando-a fofa, adubada com o legado de nossos erros, a gente vai pensando. Olhamos pra trás e percebemos que desde o início o alerta se acendeu. Não era só o cigarro que carregava no rótulo a mensagem de 'cuidado, isso vai acabar com você'. Só que a gente, assim como com o cigarro, resolve ignorar os sinais, e achar que a gente vai ser a exceção. Num vai não.
Então, quando a vida cobra, a gente se conforta dizendo: tudo tem uma razão de ser! Eu precisava aprender, e a vida encontrou uma forma de me ensinar. Não, meu irmão. A vida já tinha te ensinado, mas você, assim como eu, foi pra prova sem estudar, sem dar importância as notas, aos 'pés de página'. A gente insiste no erro até que o erro quase nos afoga - mas como a gente é teimoso, dá um jeito de boiar e chegar até praia. Infelizmente tem gente que não aprende, se afunda, e morre com o erro. A gente não.
Pessoalmente me sinto uma boa aprendiz, às vezes lenta, mas cada coisa ao seu tempo. Eu sigo errando, errante, porque insisto em não ficar no mesmo lugar. Teimo, faço do meu jeito, às vezes acerto, às vezes erro; engulo o orgulho, tento de novo, mais atenta dessa vez - aprendo. Sigo para o erro seguinte. E é assim de merda em merda que vou vivendo, vou plantando mil jardins. Alegro-me, mesmo, ao olhar pra trás e ver tantas flores, nascidas de meus erros, aprendizados de raízes profundas que ninguém, nunca mais, vai me arrancar.
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