sexta-feira, 3 de maio de 2019

Sobre como eu saí do Tinder

Sobre como eu saí do Tinder.   Verdade seja dita, eu fiquei no Tinder por muito pouco tempo, e não cheguei a sair com ninguém de lá, propriamente dito – o que não significa que não tenha me utilizado de aplicativos análogos por um bom tempo.

Divorciada, passada dos trinta, sem paciência e tempo para balada – após um mês de soluços deitada no chão da cozinha, e nos braços das amigas – me vesti de esperança e um short curto e saí com meus irmãos – ambos casados, e suas esposas. Fui a um festival de cerveja artesanal: se tudo desse errado, e a bad batesse na minha cara, era só mergulhar de cabeça num copo de 500ml de Session IPA ou qualquer outra que me lembrasse que apesar de amarga a vida pode ser boa, e relaxar.                

O festival é ótimo. Gente bonita sem ser chata; feira de adoção de cachorros; música boa e comida também. Achei aquilo legal, baixei o happn, liguei meu localizador e páh: a bateria do meu celular morreu. Acabei mergulhando em vários copos de cerveja – não porque a bad batera (aquele era um dia bom) – mas porque afinal de contas, o festival se chama Experimente, e esse acabou se transformando em um dos grandes imperativos da minha vida.

Experimentadas as cervejas, findo o festival, ou nossa permanência lá – já não me lembro, volto para casa – atravessando algumas cidades da região metropolitana de Belo Horizonte. Bato em casa, deixo o celular carregando, alimento os dogs e saio novamente para a despedida de minha melhor amiga, que estava indo morar no interior. Divorciada, passada dos trinta, sem paciência e tempo para balada, com a ‘bestie’ indo embora. Devo ter contado a ela; ela deve ter feito algum barulho engraçado (a sonoplastia dela é interessante) enquanto comemorava meu retorno do mundo dos ‘sem esperança no amor’. Após um longo dia de farra – algo que todo coração partido faz, na esperança de ser feliz de novo, ou de remendar as partes quebradas com álcool – voltei para casa.                

Tinha ‘crushes’. Aquilo era novo para mim. Significa que eu tinha curtido as fotinhas de uns manos e eles tinha me curtido de volta. No primeiro dia, eu não sabia que tinha um ‘perfil’, uma pessoa por traz do cardápio - eu só via as fotinhas e com a ajuda de meus irmãos e cunhadas – ainda no festival, cliquei numas quatro ou nove. Bem, em casa, cansada, ainda bêbada resolvi lidar com as consequências da minha impulsividade e fui conversar com os ‘boy’ (no singular mesmo, porque no primeiro dia foi só um).

Eu preciso dizer que para quem estava no fundo do poço eu me comportei muito bem: falei putaria, recebi nudes, e devo até ter mandado – não lembro, preciso refrescar a memória de vocês que tinha ido a um festival de cerveja e um bar no mesmo dia. Enfim, esse crush até deu certo, saímos algumas vezes – a conversa era direta, os convites também: ‘tô sozinho em casa, vem pra cá.’    

 Por alguma razão a gente parou de sair, mas sem aquele ranço que fica de quando a pessoa te ilude, ou tenta te iludir. A gente nunca fez planos; a gente sequer tentou atar nós – e foi ótimo assim. Nos falamos até hoje, e enquanto estivermos ambos solteiros, acredito que possivelmente não resisto a um “vem aqui”, ou “tô indo aí”.                

De lá para cá tive umas poucas experiências boas, entretanto na maioria das vezes era ‘dedo no cu e gritaria’ – não no stricto senso – apesar de tentarem com frequência, né meninas? Dedo no cu e gritaria porque parece que todas as almas penadas do mundo tem perfil em sites de relacionamento.  Saí com um professor carente que não me pagou nem um café – a carência deve ser financeira também; com um doido que só marcava de sair para almoçar e se dizia um expert com a língua, mas não sabia nem beijar – não fiquei para ver o resto; um menino que parecia bem legal, mas herdava o nome do ex, era excessivamente carente, e gostava de lamber meu rosto, e meus braços (isso no primeiro encontro, enquanto estávamos no meu restaurante favorito. Nunca mais voltei lá).

Preciso abrir parênteses aqui, essas características foram apenas parte do problema, não me julguem, ou julguem. A verdade é que essas eram as características que via a época, e confabulava sempre com minhas amigas sobre meus ‘incômodos’. Elas sempre diziam, fuja, e eu fugia – afinal eu também não estava emocionalmente estável.

Perdi a conta dos encontros, e de quantas vezes saí, entrei de novo, e saí novamente dos aplicativos. A última vez que baixei os fatídicos aplicativos foi num estranho 31 de dezembro – sentada a mesa da minha cozinha, com minha melhor amiga que fora morar no interior, ambas decepcionadas com nossas experiências pregressas, mais sábias e por mais louco que isso possa parecer – cheias de esperança. Eu tinha acabado de ‘tomar um pé na bunda’ de um dos caras mais loucos com quem já me relacionei, mas estava triste, me sentindo a cárie na boca do verme do cocô, do cavalo do bandido, preso na Dutra Ladeira. Pensava: como que esse cara (ESSE CARA) não quis ficar comigo? (Foi isso que pensei, julguem. É tópico para outro texto. Obrigada. De nada. Chama-se incompatibilidade).

Baixado os aplicativos; baixa a autoestima; baixada a guarda, tentei não baixar o nível. Afinal, sou uma mulher independente; inteligente e sou legal. Dei uma chance a um mané, que parecia muito legal, digo, compatível. Saímos duas vezes. Ele sumiu após cada uma delas. E sempre com o discurso de que “eu achei que você não tivesse gostado do date”... suspiros.

Foi assim, quando vi que um cardápio contém apenas informações superficiais; e que quase todo mundo que está num aplicativo de relacionamento está carente, sedento por algo, que resolvi sair. Eu estava abalada; precisando me sentir desejada, bonita. Precisava ter a esperança de que iria me relacionar de novo, renovada. Quando vi o quão desequilibradas as pessoas dali estavam, percebi que eu também era parte desse grupo: éramos um sanatório de carentes  cheios de tesão. Resolvi olhar para mim.

Resolvi me relacionar comigo. Olhar-me nos olhos. Acarinhar-me a carne. Contar-me piadas. Comprar-me livros, dos mais tolos aos mais densos. Percebi que não sou apenas divorciada, passada dos trinta, sem paciência e tempo para balada, e nem apenas uma mulher independente; inteligente e legal. Eu sou incrível. Um perfil com doze fotos e uma breve descrição não pode me definir. Não gosto de fast food. Na verdade, apesar de ter uma rotina corrida, não gosto de nada ‘fast’. Percebi o quão superficial eu me tornara para julgar as pessoas: eu tive um encontro de cerca de dez minutos, na hora do almoço, em frente ao meu trabalho.

Eu saí do Tinder, e do Happn, para nunca mais voltar – quando vi que não carecia de nada. Eu não estava mais carente. E cada vez que um ‘crush’ fazia a batida pergunta ‘o que você procura aqui?’ eu percebia que não sabia a resposta. Porque não tinha resposta. Eu simplesmente estava no lugar errado. Assim, ao perceber que lugar de peixe é na água, no oceano, e não na panela, que eu parti: sem crushes, sem matches. Nadando meus nadas e meus tudos por aí; na certeza de que se algum dia eu encontrar alguém com quem valha a pena me dividir, eu saberei, e ele também.  

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