Com o tempo parece que a gente pára de sofrer quando um ‘relacionamento’ chega ao fim. Na verdade não é isso. Sofremos, porém já passamos por isso tantas outras vezes que nos tornamos especialistas. É como aprender a cair na aula de Pilates: a gente segue caindo, mas aprende como, e se machuca menos - além de fazermos menos alarde. Então, quando acaba repetimos mentalmente o que já nos disseram, e o que já dissemos a nossas amigas. Sabemos que, via de regra, deu errado porque tinha que dar mesmo, então não nos culpamos (muito).
Enxergamos os sinais, que dessa vez não foram ignorados, e por essa razão o final chegou mais rápido, e você não se entregou tanto assim. Você não se perde com o fim, porque já se encontrou e sabe que pode até se encaixar em outras pessoas, mas que por si só, já é uma peça completa e única do quebra cabeças, e é importante que vc seja exatamente como é, seus contornos, formas, conteúdo e cobertura.
Sofremos menos porque já não somos mais tão doces, os fins anteriores não conseguiram nos reduzir a pó, mas mudaram para sempre nossa essência, e não somos mais tão ‘meninas’ , tão inocentes e apaixonadas assim.
Não sofremos tanto, porque percebemos que aquele pessoa não é essencial; que seu coração continuou a bater, ainda que dolorido, quando ele foi embora na última sexta-feira de manhã, e em todas as outras vezes que todos os outros foram embora, levando muito mais do que deixaram em nós.
Sofremos menos porque cada vez nos damos menos, não por sentirmos menos – mas por já termos sofrido demais.
A dor de um tropeço em uma pedra é muito menor do que a queda inesperada do topo de um penhasco, de onde você foi inesperadamente jogada enquanto olhava, apaixonada, para o horizonte. De minha parte, a queda do precipício doeu demais, mas nem por isso deixei de aproveitar a vista enquanto caia e aproveitar a pausa quando cheguei lá embaixo.
Sofremos pouco pelo fim de um novo amor, porque não há praticamente nada de novo que alguém te faça, que outros já não tenham feito: eles são (quase) todos treinados na escola do egoísmo; da superficialidade; da manipulação; da mentira; do ‘venha nós o vosso reino’ sem que ‘seja feita a NOSSA vontade’. Se ele é inovador, aí sim, 'corre que cilada Bino' e você vai sair dessa arruinada. De maneira geral já esperamos e nos preparamos para o fim desde o primeiro dia. Eu fico só assistindo para saber qual vai ser o roteiro da vez.
Ao poucos, quando eles se vão, não canalizamos nossos sentimentos naquilo que perdemos quando o ciclo se fechou e a disponibilidade dele também; focamos no que ganhamos: temo-nos novamente inteiras – porque já não nos quebram mais, e temo-nos em tempo integral. Passamos noites em claro, entregues a livros abertos, filmes estrangeiros, camas inteiras só pra gente. Sem escovas de dente extras em nossos banheiros, ou portas indevidamente deixadas abertas.
Quando eles se vão, não nos fecham – por que com o tempo as feridas não ficam mais na carne viva, apesar de escancaradas. Cicatrizaram, e o couro de nossos corações é grosso, como costumam ser seus hábitos, seus silêncios, suas críticas. O fluxo com que entram e saem de nossas vidas é intenso, porém raso.
Portanto, derramamos lágrimas, mas não enchemos mais um oceano com nossos olhos, nosso suor outrora desprendido para fazer nossos relacionamentos darem certo. Somos o nosso próprio mar. Aprendemos aos poucos que o único relacionamento que vai durar para o resto de nossas vidas é aquele com nós mesmas: portanto, entristecemos sim, a cada fim, contudo sem estragar, por mais tempo que o necessário, o nosso próprio ‘feliz (EX) para sempre.’
Ps.: Triste sim, infeliz nunca mais!
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