quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Chance: com folha dupla e toque macio

Meus parâmetros são baixos. Inclusive não ligo muito para estatura – meu pai tem apenas 160 centímetros de altura, portanto, segundo Freud, e meu último relacionamento longo, tá tudo certo.

Basta: inteligência, sorriso bonito, não ser eleitor do Bozo e nem se identificar com suas idéias medievais, me atrair fisicamente, não ser sociopata (já tive minha cota na vida); gostar de sexo, ser praticante assíduo e compatível com meus gostos;  ser minimamente presente e interessado, não me causar ônus econômicos ou a minha integridade física e psicológica – que parece ser sensível. Também é desejoso que a pessoa seja sincera, transparente – mas isso tão comum quanto cabeças de bacalhau. Mas se mentir, e eu descobrir, o cara tá fora.

Assim, se ‘uns e outros’ se encaixar nesse perfil, via de regra, eu dou uma chance, ou algumas. Além de chance eu costumo dar preferência, e até exclusividade. Sim, eu dou.

Repito, sou preguiçosa, e portanto naturalmente monogâmica: quero sim um ‘uns e outros’ para chamar de meu. Pra falar sobre o meu dia; ou simplesmente para me abraçar enquanto eu tento reencontrar em mim as forças roubadas  pelo dia e os problemas. Daí eu dou a chance, mas o ‘cabra’ acha que aquela chance, fofa e alva, que dei é papel higiênico. E dá-lhe cagada.

Consigo ter casos, uns quatro ou nove, simultaneamente, se achar que naquela única vaga não cabe meu carro – que mais uma vez repito: é pequeno, cabe em quase qualquer vaga, Tenho parâmetros baixos.

O que me assusta é pensar que, mesmo com padrões tão baixos, recrutar está muito difícil. E eu não sou a única. Nós, mulheres que resolvemos não aceitar menos do que merecemos e desejamos – até porque desejamos e precisamos de tão pouco – estamos por aí, ficando sozinhas, sendo rotuladas com as mais bizarras alegorias - sendo que é a ala masculina que não está ajudando. Eu não deveria, mas fico borocochô às vezes pensando nisso.

Nós mulheres lutamos, e evoluímos – não para sermos iguais ou melhores que os homens, apenas para sermos livres. Não nos querem assim. Não nos querem ouvir, e saber nossas opiniões. Não querem saber se estamos bem. Querem apenas que nossas bocas se calem, mas que se abram, tanto quanto nossas pernas. Somos hoje uma multidão de mulheres economicamente e emocionalmente independentes saindo com mocinhos maiores de idade – pelo menos no meu caso isso também faz parte dos pré-requisitos – com idade mental de doze anos.

Admito minha parcela de culpa: sou impaciente; direta. Sei bem o que quero – afinal meus parâmetros são baixos – e não aceito baixá-los ainda mais (estamos aprendendo a ter amor próprio por aqui). A verdade é que a evolução feminina que tanto fizeram antes de nós, e que tanto lutamos para continuar, nos trouxe a um lugar onde continuamos sendo inadequadas, e agora também somos rejeitadas, assassinadas, e humilhadas por homens que outrora sequer figurariam entre um bom partido.

 

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