terça-feira, 21 de agosto de 2018

Miga, sua Loka!

E a gente segue quebrando a cara, em busca de um amor que more fora de nossos limites corporais; que atenda por um nome diferente daquele registrado em nossas certidões de nascimento; que nos complete. Basta que você saia de um relacionamento, mesmo que o fim tenha te destroçado, para que as pessoas comecem a se compadecer de sua dor, e desejar que em breve você encontre um novo amor.

A nós, principalmente as mulheres, não é facultado o direito de seguir sozinha, feliz ou não. É preciso que estejamos com alguém para que nosso sorriso seja considerado sincero, e não desespero. Para que nosso gozo seja socialmente, ainda que apenas parcialmente, aceito como normal, e não como fuga e auto boicote.

Fui instruída assim, e como boa aprendiz que sou repliquei o conhecimento: e tão logo me vi de pé, senti-me compelida a partir em frente, em busca de um novo amor que me “completasse; transbordasse; ou o caralho a quatro’ dito aos ventos por aí. Além disso, com os traumas e a sensação de ter sido privada de uma vida, precisava de novos toques e olhares para me certificar de que eu não era um fracasso como mulher, em oposição ao que ouvi no fim e senti por mais de uma década.

Parti sem rumo, vinha de uma estrada que não me ajudava muito com relação aos meus caminhos, a bussola que me guiava havia sido quebrada, meus olhos vedados, e eu segui durante tempo demais em gostos, ou falta deles, que não eram meus. Precisei de ajuda para me reconhecer.

Foram altos, baixos, doces, truculentos. E em sua maioria inteligentes e de belos sorrisos. Até que desisti, porque percebi que o que eu procurava jamais seria encontrado ali. Descobri que minha busca deveria ter chegado ao fim mesmo antes de seu começo. Eu procurava um amor que me fizesse sentir bela, útil, boa, desejada. Não percebia que era assim que minhas irmãs me olhavam.

Juntas nós somos completas e repletas. Minhas amigas e eu somos o bastante. Rimos. Viajamos, inclusive na maionese. Bebemos juntas. Nos criticamos com amor, sem querer minimizar a outra. Dormimos abraçadas e nos damos as mãos, sem nos preocupar com segundas intenções. Nos motivamos, e vibramos com as vitórias umas das outras. Dividimos papos sobre coco e menstruação, sem receber olhares condenatórios pelo funcionamento de nossos corpos.

Mostramos os silicones e as feridas de nossos corações, sem medo de termos nossa sexualidade questionada. Nossa sexualidade não nos define. Trocamos de roupa em frente a nossas amigas que gostam de meninas, porque sabemos que amizade implica amor, mas principalmente respeito. Nossa sexualidade serve para ser divida como experiência, ou como piada caso algo saia errado, ou bem demais. Falamos sem pudor de nossos fracassos e receios, pois sabemos que ali logo a nossa frente encontraremos uma repreensão cuidadosa, um abraço, lágrimas que refletem as suas, ou uma gargalhada de quem já sabia e tinha te avisado que você iria se estrepar.  

Nos mantemos em pé, com nossos ombros encostados, apoiando-nos uma na outra, mesmo quando sozinhas não temos mais como seguir.

E foi assim, após meses quebrando a cara, copos e corações alheios que vi que meu coração estava em paz. Mesmo com as péssimas experiências vividas, eu seguia em paz. Não havia pilantrinha, passageiro de NUber ou troglodita me chamando de velha e divorciada que me afastassem de mim, porque elas estavam ao meu lado. Tantas mulheres, partidas como eu, que encaixadas a sua maneira, formam a paisagem mais tranqüila que posso ver. A sociedade machista nos acha ‘ tristes, loucas ou más’, contudo somos almas gêmeas, bruxas que entram em auto combustão para incendiar o mundo, e provar que não como há conter forças na natureza, capazes de gerar e parir todo mundo que anda por aí.

Homens podem ser ótimos, legais, companheiros, delícias na cama – mas homens não podem ser amigas.

6 comentários:

  1. Não há nada mais bonito que o reconhecimento do amor verdadeiro. Ess texto demonstra a capacidade de cada um de nós gerar "AMOR". Simples, nítido e puro. Parabéns!!

    ResponderExcluir
  2. Vc é dez,devia fazer um livro...
    Parabéns 👏👏😍

    ResponderExcluir
  3. Sensível... verdadeiro... necessário! Adorei! Parabéns!

    ResponderExcluir

cura

Disseram-me que eu me curaria. Mas como me curar da própria vida, da própria história, daquilo que indiscutivelmente desenhou linhas em meu ...