O amor moderno... será que podemos mesmo chamá-lo assim? Não sou da época em que o amor rimava com dor, com ardor, e até com pavor. O amor romântico de Lord Byron, do absinto e da tuberculose, das noites insones, das musas inalcançáveis e do desejo platônico.
Assumo que já curti muito esse romantismo dark, até conhecer o amor retribuído – ou quase. É muito mais legal viver uma história que idealizá-la. Prendi-me a isso, e cabei por amar quem me amava, focando nas virtudes e me esquecendo dos vícios – vendo o mundo através de olhos de vidro que destorciam a dor para amor. E até que fui feliz – ou quase.
Depois de virtuosos amores viciantes cai na sarjeta do amor romântico de novo: fui jogada inclusive. Deixei-me beijar por cães vadios de duas e quatro patas enquanto jazia no chão. Entornei incontáveis garrafas de vinho, até cair sonolenta em minha cozinha; desejava que a vida de meu corpo se esvaísse, como o amor saiu da minha vida, e como a fumaça do cigarro que até aqui eu não fumava.
Mas essa fase do romantismo já passou de novo, e resolvi experimentar. E aqui entra o tal do amor moderno. Tão rápido quanto o fast food que comemos após sair do cinema, dentro do shopping, e com o mesmo valor nutricional. Da ultima vez que lanchei na rede do palhaço fiquei toda empelotada de alergia. Comi o lanche em vinte minutos, me cocei a noite toda. Assim como o amor moderno.
Esse invenção não sei de quem é assim: você olha o menu, escolhe o que lhe parece agradável, experimenta. Tem um tal de “menu degustação” também, pequenas quantidades de muitas variedades. De toda forma, é tudo rápido. O menu degustação é tão pouco que não dá nem para causar intoxicação. Já o lanche do fast food... quanto mais melhor. Você se esbalda, acha ótimo. Mas se perder o timing de comer e esfriar fica péssimo. Também é péssimo para a saúde. E no meu caso dá coceira também.
Se não gostou da analogia do fast food pense num parque de diversões, daqueles meio velhos que passam temporadas na sua cidade, que é uma cidade pequena e quase nunca tem atrações culturais, se é que podemos chamar assim. Você bate os olhos naquela montanha russa de madeira, crocante. Parece que se desfará em farpas e cupins a qualquer momento, mas você está há tanto tempo sem fazer nada que julga que não tem nada a perder, e resolve pagar para ver.
Sabe que será uma jornada curta, com altos e baixos, com grandes chances de dar errado: o equipamento de segurança, se existir, pode não ser eficaz; você pode ficar com dor na coluna de tanto se bater naquele carrinho enferrujado; pode até pegar tétano; o carrinho pode parar e você ficar lá em cima por mais tempo que planejara, tomando chuva e passando frio – com a sensação de que aquilo não foi idéia sua, mas foi. Você pode vomitar, durante ou depois da jornada.
É claro que existem amores modernos que valem o risco, e que são super divertidos, você solta as mão e grita com os olhos abertos enquanto seu corpo parece estar em queda livre – mas são curtos. Você anda na montanha russa diversas vezes, sabe que sempre acaba, mas quer mais – até que o dia em que parque vai embora, e você não vai acompanhá-lo como José Arcádio acompanha os ciganos. Acabou.
E termina assim – como começou: enquanto você observa o amontoado de farpas e cupins em que se transformou sua vida, e pensa que deveria ter ficado em casa, com um livro ou a TV.
Nenhum comentário:
Postar um comentário