quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Tempo... Sempre o tempo.

 O tempo do outro não nos pertence, assim não escolhemos como devem usá-lo. Mas se privilegiados, podemos escolher como viver o nosso. Sim, viver. Porque tempo é a vida que escorre entre nossos dedos enquanto seguramos o celular, a mirar sua tela, esperando um telefonema, ou uma resposta. Vida que não volta nunca mais. Tempo é a brisa que faz girar as engrenagens do relógio.

Enquanto a resposta a algo que julgamos tão relevante que jogamos para o outro não vem, nós não perdemos tempo. Ele corre, da mesma forma que correria se ao invés da espera resolvêssemos viver, e ter aquela conversa com a amiga do ginásio, reler aquele livro que tem cheiro de saudade, na soneca cheia de sonhos macios, ou num banho pra lavar a alma e o cabelo antes da meia noite. 

Não há nada de errado. Ela não precisa te querer no seu tempo - mas é claro que dói saber que enquanto você espera, olhando o tempo passar - sem passar a roupa, nem o rodo, nem o medo passa - ela não te encaixa no tempo de duas palavras. Num refrão.

Dói reagir e entristecer-se s por que pra ela você não é nem o segundo no quinquagésimo nono segundo da hora final de uma segunda-feira, em que você esperou todo dia, sem segundas intenções, só por se importar e querer notícias.

Ela não te pediu que esperasse - mas esperastes; por esperança e expectativa, enquanto os minutos agonizavam.

Talvez ela tenha dito que ligaria - mas quando? Até quando? 

E você espera até não querer mais, literalmente. Até que a resposta tenha se tornado tão irrelevante quanto você, e saber como foi o dia dela já seja um capítulo do passado. E se ela vier, a resposta, será como o tempo que passou enquanto você esperava - vazio, intocável.

Também esperei. Mas tornei-me boa em deixar tudo pra trás: o tempo, a mala, a estrada - ainda que me doa. Sei acertar meu ponteiro, aceitar meu lugar no calendário, na linha cronológica, na breve história de um suspiro.

Assim como o tempo, eu não cesso, eu não sou, eu me dobro, eu vôo. E aprendo:

Não nos pertence o tempo do outro, nem ao outro pertencemos, nem nosso tempo - ao menos que assim desejemos desperdicar-nos - então, tomo o tempo que me resta, em longos goles sedentos, dias e momentos só meus.

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