Tudo é lição, aprendizado. Todos são mestres.
A chegar ao mundo, o ar nos ensina a respirar. Ninguém além
desse gigante sem forma, nos penetrará as narinas, e os pulmões – essa lição
nos manterá vivos, e nos fará chorar. Respiração e lágrimas. Primeiros passos de
uma estrada que percorreremos até não conseguirmos mais preencher nossos pulmões
em movimentos cíclicos e molhar o caminho com a água salgada que faz tudo
brotar.
Aprenderemos a nos encostar sedentos no seio de nossa mãe, e
nos alimentar do líquido quente que nos ensinará o amor, a segurança, o abraço –
pelo menos a maioria de nós aprenderá assim, ricos e pobres, em quase todo o
planeta. Mas se o acalanto de se achar ao peito de uma mãe não vier, o amor,
cedo ou tarde se aproximará.
Aprenderemos entre quedas a caminhar; entre caretas e recusas
quais os alimentos gostamos, e que devemos ou não comer. Aprenderemos sobre
como o fogo aquece, mas também destrói; como a faca corta, e que alguns ‘amigos’
nos empurrarão do escorregador.
A vida é aprendizado, e cada professor é mestre. Aprenderemos
a calma, seja pela voz macia de mãe, ou tia, ou pela dor de esperar por um
sonho que, por mais que persigamos, parece estar sempre atrasado. Aprenderemos
nossas habilidades, seja pelo prazer do ofício, ou pela urgência de sobreviver.
E aprenderemos que aquilo que não nos mata, de uma forma ou
outra, acaba por nos fortalecer – por vezes descobrimos que mesmo despedaçados
conseguimos sobreviver, rir, e sonhar de novo. Há quem nos ensine pelo exemplo, velas
na escuridão que nos doam sua luz, sabendo
que não se tornam menores, mais cálidas, gélidas por nos iluminar. A
quem tente nos apagar pelo simples prazer de ver-nos extinguir a luz e o calor –
e sem saber ensinam-nos a fazer luz onde nem física, nem intuição poderiam prever, ou ter
receita.
A quem nos tome pela mão, e nos guie, ou apenas nos acompanhe
em nossos caminhos. A quem nos roube o alforje, as vestes, e até o alimento.
Nos fustigam a carne, e nos deixam sob céu ensolarado, esperando que pereçamos.
Se não nos matam, criamos raízes, e brotamos de novo.
São esses os mestres do fogo. Destroem-nos, tentam destruir-nos,
com suas cegas labaredas, para se irritarem ao ver-nos brotar novamente na chuva
seguinte. Parecem ensinar, e pouco aprender. Não percebem quem nem sempre hão
de vencer. Seguem tentando, queimando-nos, seguimos brotando.
Ar, água, terra e fogo. Sangue, lágrimas e recomeços, sonhos
que se despedaçam dando lugar a outros. E a gente vai aprendendo, sem se prender.
Talvez a aula não acabe, e não possamos descansar até aprender algo que sequer
sabemos existir: fé, afeto, sabedoria, calma, raiva, pressa ou letargia – tudo deve
ser esmiuçado, e tatuado em nosso corpo, arquivado em nossa memória – até o dia
que o ar não nos preencherá os pulmões, estarão cheios da vida que aprendemos,
rio corrente que chegou ao mar.
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