segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Um visualizado e não respondido vale mais que mil palavras.

Um ‘tick’, mensagem enviada. Dois ‘ticks’, mensagem recebida. Dois ‘ticks’ azuis, mensagem lida. Ansiedade pela resposta.

O aplicativo de conversa mais utilizado atualmente ilustra bem a comunicação humana. Nas aulas de análise do discurso, nos tempos de faculdade, ficou claro para mim que tudo que é dito, é dito com um objetivo, uma intenção. Toda mensagem pretende causar uma reação em seu interlocutor. O objetivo primitivo – parece-me – é uma resposta.

Assim quando, ao conhecer alguém, você diz ‘oi, tudo bem? Meu nome é Trouxa’, você espera que o a outra pessoa te responda , pelo menos ‘Ei, estou bem sim.  Meu nome é Vocênãoétrouxanão.’ Assim vamos vivendo, jogando palavras ao vento, no papel, na cara das pessoas, em suas caixas de e-mail, redes sociais, telas de celulares, tatuamos palavras em nossa pele, rabiscamo-las em muros, árvores (crime contra a natureza, ta?), cantamos palavras, lançamo-las no espaço na esperança de que uma sociedade inteligente a encontre, e ache interessante o que temos a dizer.

Sou de humanas, mas precisamente da Letras, portanto tudo para mim é comunicação, diálogo, troca. Se não tenho nada de interessante a dizer (baseado nos meus padrões de ‘interessante’, okay?) opto pelo silencio, na tentativa de evitar arrependimentos e constrangimentos futuros. Odeio perder o sono pensando em como poderia ter evitado a Terceira Guerra Mundial, quando alguém muito querido chamou minha cachorra de feia, e eu respondi com “mas você já se olhou no espelho?”.

Assim seguimos dizendo ‘eu te amo’ esperando uma resposta que não seja o silêncio, ou apenas um ‘muito obrigada’. Fazemos convites para o cinema, para festas de aniversário. Dizemos a pessoa que estamos preocupados; que ocorreu um acidente da esquina; que ta frio, calor ou chovendo – ainda que esse último seja incontestável e provavelmente seu interlocutor já tenha ciência do fato. Falamos porque queremos ser ouvidos. Que nossa mensagem seja recebida, internamente lida – analisada, e respondida.

Contudo, nem sempre queremos responder. E tudo bem não querer responder, porque a ausência de resposta também  é uma resposta. Pessoalmente, eu não gosto de ser dúbia, apesar de essa ser a única palavra do vernáculo que rima com meu nome (informação desnecessária, com o intuito de te fazer pensar se existem outras, e se você souber... me fale, please!) e deixar a pessoa chegar as próprias conclusões. Professora que sou, respondo a tudo. Sou a encarnação de ‘ação e reação’, ‘pergunta e resposta’ (ainda que a pergunta não se apresente com o tradicional formato questionatório), eu jamais ignoro uma palavrinha sequer que me tenha como alvo – a não ser que eu esqueça.

Eu acho que, apesar  de não ser nem imoral, nem ilegal e nem engordar, deixar a pessoa sem resposta é CRUEL. A gente fica sempre na dúvida: será que ‘Vocênãoétrouxanão’ não me ouviu? Será que teve uma sincope enquanto pensava na resposta? Foi abduzido? Será que teve o celular roubado? Será a mãe dele teve algum problema, ele foi ajudá-la e se esqueceu da minha pergunta? Será que ele está chateado comigo por algo que eu disse?

O aplicativo nos dá uma ajudinha, o tão ‘double tick azul’: recebeu, leu, não respondeu? Vácuo. A pessoa declaradamente não quer te responder, ou não pode, sei lá. Fato é: naquele momento você vai ficar sem resposta, e de nada adianta ficar ansioso, mandar trezentas mensagens, ligar, postar no Instagram.

É simples, não vai rolar agora – vá viver sua vida, fazer uma tarefa, conversar com outra pessoa, correr, comer uma azeitona. Por favor, só não corte os pulsos, e atente contra a sua vida, ou a de outro ser por essa frustração. Seu interlocutor virtual pode ser como minha mãe: visualiza a mensagem, sem sequer ver que tem uma mensagem, e  não responde, nunca. Ela faz isso na vida real. Eu falo algo, ela balança a cabeça, sorri e diz algo amplo tipo “é ... menina”.

O aplicativo que mostra que visualizamos e não vamos responder nos encoraja a sermos sinceros: não quero falar com você. Aceite que dói menos. De minha parte, eu quase sempre aceito. Faço uns testes depois, tipo mando alguma outra mensagem e tal, ou se é algum amigo muito próximo, faço drama ou xingo pelo vácuo, mas respeitando (ainda que não pareça) o direito do outro.

Assim, algo que me indigna profundamente é quando o ser humano tira a função ‘double tick azul’. Gente, isso é o cumulo da crueldade: por mim tudo bem ser preterida. Com tanta gente legal no  mundo, se uma pessoa não quer falar comigo, eu falo com outras, ou com meus cachorros, ou eu me sento para escrever , ou canto aos berros para expulsar a frustração; mas ninguém merece a agonia de um visualizado e não respondido: porra, a gente fica preocupado! Eu realmente entro em pânico. Tenho vontade de pegar o carro, e ir até a pessoa para saber se ta tudo bem.

Mas talvez a pessoa só queira me ignorar mesmo, e fingir que nunca nem me viu – eu e minha mensagem – daí chegar lá pode ser pior, né? Engulo seco, olho para baixo. Tento ver uns vídeos de cachorro, trabalhar (muito), dormir, se a hora assim me permitir. Tento seguir minha vida sem saber se a pessoa morreu, ganhou na mega sena, foi-se para Nárnia. Se eu te mandei mensagem é porque sua integridade física me importa, se importe com a minha integridade psicológica, vai?

É isso galera, por favor, voltem com o ‘double tick azul’ – assuma seu ranço, sua preguiça da pessoa, mas não a mate de agonia (a não ser que seja de fato essa a sua intenção: livrar o mundo desse Erê, fazendo com que ele , ela ou eu, cortemos os pulsos de desespero).

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