terça-feira, 15 de maio de 2018

Trairão

Sabe o que é tão horrível quanto a traição de um parceiro amoroso – que não foi humano o suficiente para ser sincero, direto, e minimamente cuidadoso com o outro que farejava que tinha algo errado, mas acreditava nas mentiras por achar que diálogo, confiança e sinceridade são os pilares de qualquer relacionamento? É a sociedade que julga o traído como inferior.
            E a gente replica isso: quando somos traídos, pensamos que fomos preteridos, que o novo objeto de amor é melhor que ‘nosotros’ ainda que olhemos e analisemos e não encontremos nenhum diamantezinho cravado na pessoa; quando olhamos para o outro, que foi traído, e tentamos achar explicação.
            Há algum tempo uma amiga e eu estávamos conversando sobre homem traído. No meio em que vivo as mulheres traem menos que os homens, mas não sei como é a estatística: mas uma amiga dessa amiga deu o veredicto: homem só é traído quando é ruim de cama. Essa era a experiência dela, tão na repescagem quanto eu. Ela saia com caras divorciados (e traídos), e todos eles não a satisfaziam.
            Caramba, né? Que pensamento super machista! Sexo, stricto sensu é tudo? E ser ruim ou bom de cama? Os assexuados devem (não conheço para saber) adorar alguém que se deite ao lado dele e assista uma temporada toda de HIMYM sem uma mãozinha boba, e uns dois episódios que passam na TV sem que ninguém preste atenção. Deve ter gente que goste de coisas pequenas e meio molengas, tipo jujubas na hora do ‘chupa e lambe’... certamente tem gente que tem fetiche quando o parceiro é desinteressado ou preguiçoso o suficiente para sequer tirar a camisa – o que para mim é uma heresia, ao menos que você esteja em local com grande visibilidade e a discrição seja fundamental para se evitar a prisão por atentado ao pudor.
            Enfim, cada um tem seus gostos. E tentar achar explicação para traição, de maneira geral é culpar o parceiro que, PROVAVELMENTE, foi o menos filho da puta, pela decisão do outro de seguir um outro caminho, sem falar “olhe, tô pegando essa outra rota, viu? A partir de agora vou por aqui”. Já ouvi histórias de amor do tipo “meus pais eram casados antes, se separaram porque se apaixonaram e estão juntos há trinta anos”. Lindo. Mais lindo ainda se foram honestos com o parceiro anterior independente se ele estava deprimido, se ele gostava mais de sexo, se tinha muitas tatuagens ou se era mais cheio de sonhos.
            Bem, eu fui traída – e sinceramente eu não consigo achar nenhuma explicação racional. Não tem. Mas sinto o olhar de pena das pessoas para mim, mesmo eu sendo independente, visualmente palatável, divertida, boa de copo, inteligente, modesta na medida certa, presente em ‘cama, mesa e banho’. Pior ainda é ver o olhar de tristeza dos que vieram antes mim, se perguntando mentalmente o que fizeram de errado em minha criação, para que eu não conseguisse segurar um marido. A traição só foi descoberta após a formalização do fim dos laços – mas nem isso minimizou os laços que o abandono afrouxou.  
            Depois de ser traída olho todos os homens com um olhar de suspeita, e acabo espantando todos. Vejo isso como seleção natural. Eu sou ar, e ocupo todos os lugares – ninguém consegue me aprisionar em caixinhas, e colocar um rótulo. Não caibo em locais e pessoas fechadas. Fujam, traiam e não voltem mais aqui. Serei fiel a mim, estarei em um relacionamento sério comigo mesma – onde há amor próprio que transborda; me levo para lugares legais, e me trato com carinho e respeito. Participações, contanto que especiais, são muito bem vindas, afinal depois que se é traída preferimos um relacionamento ‘aberto’.




Adivinha quais pés fugiram?
           

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