terça-feira, 8 de maio de 2018

Quer dançar comigo?! (Do you wanna dance???)

Eu tinha cinco anos e ,como quase toda menina daquela geração, eu queria ser bailarina. Nunca vesti um tutu ou um collant, mas um dia minha mãe disse que me colocaria na aula de ballet, e aquilo moldou minha atitude durante um tempo. É claro que nunca fiz a tal aula da ballet, talvez fosse menos aparvalhada hoje se desde criança tivesse me engajado em atividades físicas, mas não rolou. Enfim, um dia eu fui convidada pra ser dama de honra no casamento de uma prima, e pirei. Aquilo queria dizer que eu era bonita, que eu iria usar um vestido rodado, segurar na mão de um menino, e entrar em um lugar em que todo mundo iria olhar para mim. Eu era tímida a ponto de me esconder atrás das pernas de minha mãe nas fotografias, mas sei lá por que cargas d'água eu não só topei, como amei a idéia. Experimentei o vestido, treinei para desempenhar perfeitamente minha função, como tentei fazer toda minha vida (até que desisti). No dia do casamento meu coraçãozinho pulava feito o sapo em um conto de fadas. Ao chegar na igreja, sem que ninguém pedisse, me agarrei ao primeiro pajem que vi. E ficamos assim, de mãos dadas por algum tempo. Infelizmente, eu fora designada para o outro pajem, e minha prima para o príncipe que eu escolhera: jamais a perdoei por isso, ainda que a decisão não tenha sido dela. Enfim, tudo transcorreu tranquilamente. 


Dever cumprido, hora de aproveitar na festa. Eu certamente não me lembro do que tocava nas rádios populares em 88/89, mas acho que algo como 'Tieta não foi feita da costela de Adão...' Enfim, sem me importar com o que tocava na festa eu rodopiava como uma bailarina com meu vestido rodado, com anáguas de filó armado, que, para um menina de cinco anos, em nada diferia dos adereços da bailarina. Bracinhos para cima, na ponta dos pés, eu pulava sem parar sem me importar com o ritmo, com os outros, com meus movimentos atrapalhados que em nada lembravam plié, fondu ou frappé... Meu pai me chamou num canto, e me orientou com todo amor que foi capaz a 'deixar de ser ridícula'. Lembro de ter reagido super bem: me sentei numa cadeira e chorei, bastante. 



 Pois é, quase trinta anos depois eu voltei para a pista, e hoje não preciso que meu pai me diga que não estou conseguindo entender que ritmo é esse que a galera está dançando. Voltei para pista depois de um casamento e não conheço o ritmo, a letra, se a gente dança junto, separado, se posso chamar alguém para dançar, se posso aceitar de primeira quando alguém me chama, se posso dançar várias vezes com a mesma pessoa sem que nos tornemos pares fixos e exclusivos. Posso dançar com mulher?! Meu pai sempre disse que isso era deprimente... Enfim, tenho a clara certeza que nessa 'dança do acasalamento' modernosa, da época dos aplicativos de paquera, redes sociais fervilhando de fotos de corpos perfeitos, e stories, status, e tutoriais de como flertar - eu sou um dos seres mais desacontecidos. Bato palmas no contratempo e mando mensagem no dia seguinte. Falo para um parceiro eventual que gostei de seu gingado. Chamo o moço para dançar, e fico esperando ele achar tempo para para me encaixar em seu compasso. Quando me tiram para dançar não sei para que lado começar. Dou três passos quando só dois eram necessários. Não sei onde coloco minhas mãos, que suam, tremem, ou balançam em sinal de negativa. Quando a bestie pergunta, e aí o encontro foi bom?! Eu nunca, nunca sei responder. Eu nunca sei se gostei, se gostaram de mim, se a gente vai repetir, e se não vai não sei o porquê. Não sei ler os sinais, e quase sempre me espanto tanto quando mandam mensagem no dia seguinte, quanto desaparecem. Eu não sei porque não curto um dançarino experiente, e adoro dançar sem regras com alguém que nem era nascido e eu já rebolava ao som de 'É o Tchan'. Enfim... Enquanto tento aprender a coreografia, os passos, o ritmo e o protocolo da pista, eu sinto apenas que minha vida afetiva está 'sambada', e que eu vou continuar dançando - no mal sentido - por um longo tempo. Bobeou, dançou: já diziam na década de 80.


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